Ricardo Salgado admite que houve “negligência grave” na gestão da holding do BES

Uma auditoria encontrou dívida não contabilizada nas contas da Espírito Santo Internacional.

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Salgado diz que o grupo não prestou atenção à estrutura do topo Enric Vives-Rubio

O presidente executivo do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, afirmou esta quinta-feira em entrevista ao Jornal de Negócios que o grupo que reúne os interesses da sua família vai “procurar chegar o mais alto possível” até aos 27%, realçando que nunca ficará abaixo dos 20%. Deter no mínimo esta posição, diz, “é incontornável”. Com o processo de aumento de capital do banco a decorrer (mais mil milhões de euros), é já certo que a posição da família Espírito Santo vai reduzir-se, com a venda de direitos de subscrição.

Também o Crédit Agricole, até agora unido aos Espírito Santo na holding Bespar, vai diminuir a sua posição. Os franceses, diz Salgado, “pretendem continuar no capital,” mas de forma “mais reduzida”. O acerto de posições accionistas será conhecido a 11 de Junho, data do anúncio dos resultados da oferta pública de subscrição (OPS) das novas acções.
 

A partir daqui, afirmou Ricardo Salgado ao Jornal de Negócios, caberá ao Grupo Espírito Santo (GES) “conseguir [reunir] à sua volta um conjunto de accionistas que continue a apoiar [o grupo]”, inclusive quem participe no capital do BES pela primeira vez. “Uma certeza é que deixamos de ter o controlo”, disse o banqueiro. As mudanças no banco vão passar também pela gestão, que terá de ser mais independente da família.
 

Sobre a presidência executiva Ricardo Salgado sublinha que ainda está no seu mandato e fez questão de relembrar o recente voto de confiança dado à administração do BES. Questionado sobre as relações com o presidente do BES Investimento, José Maria Ricciardi, que contestou recentemente a liderança, Salgado afirmou que o seu primo “está sempre razoável, está sempre na sua, no banco de investimento”.
 

Na entrevista a este jornal diário, o banqueiro admite que “o grupo cometeu erros” na gestão da holding Espírito Santo Internacional (ESI), na qual uma auditoria da KPMG pedida pelo Banco de Portugal detectou irregularidades, e à qual apontou uma situação financeira “grave”. Nas contas da ESI foi detectada dívida não contabilizada, bem como uma consolidação de várias holdings que estava por fazer.
 

“Assumo que o grupo cometeu erros, mas erros provocados pela nossa estrutura e organização no topo, à qual devíamos ter prestado mais atenção”, diz o banqueiro ao Jornal de Negócios, justificando a situação com a crise de 2008, que levou a que as atenções se concentrassem no sector financeiro, tendo havido uma menor atenção na “organização administrativa, financeira e contabilística no topo do grupo”. “Tínhamos uma estrutura extremamente frágil.”
 

A ESI, que tem sede no Luxemburgo, é dona do Espírito Santo Financial Group, que por sua vez tem uma participação de cerca de 27% no capital do BES. A ESI detém também a Rioforte, a empresa do grupo para operações não financeiras.
 

Em resposta a questões sobre a venda de dívida desta holding aos clientes do banco, Salgado afirma que o BES não sabia “que havia uma enfermidade ao nível da ES Internacional”. O banqueiro classifica o caso como “uma negligência grave” e “incompetência”. Salgado, que faz parte da administração da holding, assume a sua quota de responsabilidade, mas sublinha que faz parte de “um grupo familiar”, com cinco grupos. “Todos nós somos responsáveis”, realçando que a sua vida é passada no banco.
 

Sobre o BES Angola critica a gestão anterior, de Álvaro Sobrinho, e afirma estar a trabalhar de modo a a que a garantia de 18 meses dada por José Eduardo dos Santos a 70% dos créditos mude depois para “uma modalidade a mais longo prazo”.
 

Quanto à Rioforte (não financeira), diz que haverá um aumento de capital até ao valor de mil milhões nos próximos dois a três meses, junto de investidores institucionais e particulares (sem ser pela bolsa) e que a Tranquilidade deverá ter um grupo internacional como parceiro.
 

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