Ébola “pode resolver” o problema de imigração da Europa, considera Jean-Marie Le Pen

Palavras do fundador da Frente Nacional foram captadas por jornalistas antes de um comício em Marselha e causaram furor na campanha francesa.

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Jean-Marie Le Pen discursa no comício da Frente Nacional em Marselha AFP/FRANCK PENNANT

O fundador da Frente Nacional e patriarca da extrema-direita francesa, Jean-Marie Le Pen, entrou com estrondo na campanha eleitoral ao considerar que as pressões de imigração que a Europa atravessa poderiam ser resolvidas com o vírus ébola, cuja infecção provoca uma febre hemorrágica com uma elevada taxa de mortalidade.

Numa conversa ouvida por jornalistas da agência France Presse, que acompanhavam os bastidores de um comício da Frente Nacional em Marselha, Le Pen aludiu à “explosão demográfica” que alegadamente está a deixar a França e o mundo em “risco de submersão”, e logo identificou uma solução para a “actual substituição da população natural”: “O 'Sr. Ébola' é capaz de resolver tudo isso em três meses”, declarou.

O ébola é um vírus altamente contagioso que até agora se manifestou em países africanos. Desde 1976, quando foi identificado, já matou mais de 1600 pessoas. Uma epidemia na Guiné-Conacri fez mais de 80 vítimas no passado mês de Março.

Pouco depois, já no palco do comício, o presidente honorário da Frente Nacional insistiu que a população francesa corria o risco de “ser substituída por imigrantes”. “No nosso país, e em toda a Europa, estamos a experimentar um fenómeno que é um cataclismo: uma invasão migratória que ainda está só no começo”, alertou.

Le Pen apontou uma “agravante” na crise de imigração europeia: “Muitos imigrantes são muçulmanos, e o islão tem uma vocação conquistadora, principalmente quando se sente fortalecido pelos grandes números”.

Le Pen, de 85 anos, é um dos candidatos do partido ao Parlamento Europeu. Anteriores declarações racistas, anti-semitas e de incitamento ao ódio, já lhe valeram condenações judiciais – em 2005, o Parlamento Europeu votou para levantar a imunidade e obrigar o eurodeputado a pagar as indemnizações a que fora condenado por um tribunal de Paris.

Perante a indignação e a repulsa que as suas palavras em Marselha causaram no país, o candidato defendeu as suas “observações”, notando que estava apenas a mencionar o facto histórico de que acontecimentos como guerras e epidemias influenciam as tendências populacionais a nível global. “Em 1919, a gripe espanhola matou mais pessoas num ano do que a Segunda Guerra Mundial em cinco anos”, comparou.

O ministro da Agricultura e porta-voz oficial do Governo francês, Stéphane Le Foll, lamentou as declarações “inaceitáveis” de Le Pen e alertou para a ideologia que representam. “Todos aqueles que sugerem que a Frente Nacional mudou têm aqui mais uma prova em contrário”, frisou.

A sua filha e presidente do partido, Marine Le Pen, recusou comentar as palavras do pai. A Frente Nacional espera alcançar uma vitória histórica nas eleições europeias de domingo, com as sondagens a colocar a força de extrema-direita acima dos restantes partidos franceses, com mais de 20% dos votos.

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