Baleias e golfinhos apenas sentem o sabor salgado

Mutações genéticas levaram a alterações nas papilas gustativas dos cetáceos, que perderam quatro dos cincos gostos primários.

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Baleia-de-bossa Whit Welles

Ao sentirem o gosto dos alimentos, as papilas gustativas protegem-nos de ingerir substâncias tóxicas. Isso também acontece com os animais. No entanto, as baleias e os golfinhos não sentem os cinco gostos primários.

Num estudo publicado na revista Genome Biology and Evolution, revela-se que mutações genéticas num antepassado dos cetáceos levaram ao desaparecimento de quatro dos cinco gostos primários. Assim, os cetáceos são o primeiro grupo de animais que se sabe ter perdido a sensibilidade ao doce, ao amargo, ao azedo e ao umami. Os seus receptores nas papilas gustativas apenas detectam o salgado.

“As baleias representam o primeiro grupo de animais aos quais falta quatro dos cinco gostos primários, provavelmente devido a um ambiente marinho com concentrações elevadas de sódio, a um comportamento alimentar em que engolem as presas inteiras e à transição de uma dieta à base de plantas para uma dieta de carne no antepassado das baleias”, refere o artigo científico.

A equipa de investigadores, liderada pelo zoologista Huabin Zhao, da Universidade de Wuhan (China), descobriu esta alteração nos cetáceos ao analisar o genoma de 11 espécies de baleias e golfinhos, mais concretamente os genes responsáveis pela produção de receptores (proteínas) nas papilas gustativas.

A capacidade de detectar sabores é essencial à sobrevivência, permitindo compreender quando a comida é potencialmente perigosa e, no caso dos cetáceos, as conclusões são surpreendentes. “A perda do sabor amargo é uma surpresa completa, porque as toxinas naturais têm tipicamente um sabor amargo”, disse Huabin Zhao, citado numa notícia da revista Science.

Segundo o estudo, a perda dos quatro sabores ocorreu depois de o antepassado comum dos cetáceos se ter tornado completamente aquático há 53 milhões de anos (as baleias descendem de animais terrestres que foram para o mar) e antes de o grupo se ter divido em baleias com dentes e baleias com barba, há 36 milhões de anos. Mas o gosto salgado manteve-se, uma vez que desempenha uma função fundamental: ajuda a regular a pressão arterial e os níveis de sódio no organismo.

“Mostrámos que os genes que codificam os receptores de gosto do doce, do umami, do amargo e do azedo são pseudogenes [iguais a genes normais, mas que não originam o fabrico de proteínas], enquanto os genes para os receptores do salgado ficaram conservados ao longo da evolução em baleias com dentes e em baleias com barbas”, refere o artigo científico.

Texto editado por Teresa Firmino
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