Eles querem transformar o Campo das Salésias num espaço de desporto e lazer

Projecto Warehouse venceu um concurso internacional com um projecto à base de paletes para o antigo e abandonado campo do Belenenses. Agora querem pôr as mãos na massa

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José Maria Ferreira
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Sempre que participam em concursos, os arquitectos do Projecto Warehouse fazem questão de cumprir uma premissa: propor ideias passíveis de serem executadas. Por isso, quando a notícia de que o primeiro lugar do concurso internacional de ideias PLAYSCAPES na categoria estudantes era deles, o colectivo já tinha a certeza de que o projecto de recuperação do Campo das Salésias era para (tentar) concretizar.

Para o antigo e abandonado campo do Belenenses, inaugurado em Lisboa em 1928, o grupo de alunos da Universidade Lusíada de Lisboa projectou um espaço de desporto e lazer construído à base de paletes. “Pensamos quase na óptica de um catálogo Ikea com paletes, em que os utilizadores pudessem ir criando o espaço como quisessem”, contou Ricardo Morais, que juntamente com Rúben Teodoro fundou, há cerca de um ano, o Projecto Warehouse, que de momento conta também com as presenças de João Peixe, Sebastião de Botton e Inêz Paiva e na altura do concurso tinha na equipa Diogo Anjos e Ivo Nascimento.

Os equipamentos apresentados no concurso promovido pela Building Trust International são “polivalentes” — um banco pode ser um aparelho de triceps, uma mesa pode ser uma baliza, um canteiro de flores é simultaneamente um banco, uma bancada é um aparelho de step... Para que o espaço fosse concretizado exactamente como foi projectado (ver últimas imagens à esquerda) seriam necessárias cerca de 1000 paletes, mas a vantagem é que com três paletes já se conseguem construir algumas peças.

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O antigo e agora abandonado campo do Belenenses foi inaugurado em Lisboa em 1928 José Maria Ferreira

Um vídeo e 'crowdfunding'

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Projecto é uma espécie de catálogo Ikea com materiais feitos com paletes José Maria Ferreira

Depois de perceberem a quem pertence legalmente o campo — que actualmente conta apenas com as duas balizas e um resto do 'tatame', e que deverá ter, no total, o espaço equivalente a um campo e meio de futebol de onze —, os arquitectos pretendem partir para o terreno.

Sem financiamento? “Sabemos por experiência que o investimento só virá depois de alguma coisa estar feita, nunca mostrando só um papel e uma ideia”, respondeu Ricardo. Mas esse arranque, exemplifica Rúben, pode passar simplesmente “por um acto simbólico como a limpeza”.

O colectivo — que está já a preparar uma equipa mais alargada para abraçar este projecto — pretende entretanto “falar com a comunidade e tentar fazer um vídeo, com sócios do Belenenses e pessoas que vivem nas imediações”. “Queremos perceber o que eles querem e talvez usar esse vídeo para fazer uma campanha de 'crowdfunding'”, explicou Ricardo Morais.

Arquitectos no terreno

Esta etapa cumprirá outro dos requisitos obrigatórios no trabalho do Projecto Warehouse — testar a ideia. “Podemos chegar à conclusão que as pessoas não querem nada daquilo... e é extremamente importante que aquelas pessoas se apropriem do espaço”, disse Rúben.

A definição que fazem deles mesmos — “colectivo experimental” — é facilmente justificada: “Interessa-nos desenhar um espaço e, enquanto se está a construir, continuar a pensar nele, não ter uma relação de domínio”, diz Ricardo Morais. E Rúben Teodoro completa: “Foge um pouco à ideia do arquitecto no atelier, estamos mais no terreno e construímos com as próprias mãos.”

No currículo, o colectivo (que agora conta apenas com arquitectos, mas que já teve designers) conta também com uma participação na construção da Casa do Vapor e na Cozinha Comunitária das Terras da Costa, entre outros.

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