"360 m2", os limites da linguagem fotográfica

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Com uma câmara de grande formato (chapas de 4x5 polegadas) e um “raro filme preto e branco instantâneo” (Polaroid 55), Pedro David quer que as suas fotografias “remetam a imagens de outras épocas, sugiram uma arqueologia de um lugar também extinto — ou fictício —, outrora explorado”. "360 m2" é uma série de fotografias em que o brasileiro interpreta os efeitos de ocupação do terreno onde vive com a família — a esposa e o filho de dois anos —, “às margens da rodovia nacional BR 040, num bairro periférico da região metropolitana de uma grande cidade brasileira, Belo Horizonte”. “Mais do que registar nosso quotidiano, pretendo investigar, a partir da criação de fotografias, características de nossa ocupação no terreno, as transformações a que submetemos nossa casa, e nossas relações com o ambiente, pertences, rastros e vestígios”, escreve num texto enviado ao P3 e com o qual explicou o seu projecto no primeiro concurso ibérico-americano de fotografia Nexofoto 2014, que lhe atribuiu o primeiro prémio. “Pretendo também que 360 metros quadrados nos leve a discutir os limites da linguagem fotográfica, ao resgatar elementos e questões pictóricas e escultóricas para construir imagens carregadas de sentido plástico, simbólico, e metonímico, pois, apesar da diminuta dimensão geográfica explorada — uma área de 360M2 —, tento alcançar a esfera global”, acrescenta. Esta série dá seguimento a uma vertente que Pedro David desenvolve desde 2008, com as séries "Aluga-se" (2008), realizada a partir de incursões a apartamentos oferecidos para locação, "Coisas que Caem do Céu" (2009), em que após a mudança de casa o fotógrafo se depara com objectos que dia após dia aparecem no chão da área de serviço do seu apartamento, e "Última Morada" (2010), onde Pedro David fotografa os pertences da mãe logo após a sua morte, antes de esvaziar o apartamento.