Vão as exportações sobreviver às oscilações das vendas de combustíveis?

Turismo, vestuário, calçado e bens alimentares apontados como sectores com potencial de crescimento.

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As vendas de combustíveis representaram, em 2013, cerca de 10,5% das exportações Fernando Veludo/NFACTOS

O investimento descia a pique, o consumo estava em queda acentuada, a produção industrial derrapava, o desemprego subia para valores máximos e, no meio da crise, as exportações pareciam ser o único motor de escape de uma economia em contracção acelerada. Mas agora que o investimento e o consumo recuperam (e que o contributo da procura interna para o crescimento da economia se reequilibra), que papel continua reservado às exportações, que cresceram muito à boleia das vendas de combustíveis num país onde a capacidade de refinação, embora tenha crescido, continua a ser limitada?

Se é verdade que o crescimento das vendas passou em boa parte pelos combustíveis, é certo que beneficiou também do impulso das exportações de serviços – graças ao turismo – e mesmo de bens de consumo como os artigos de vestuário, o calçado e o sector alimentar. Segundo o Banco de Portugal, como o crescimento das exportações superou a procura externa, o país ganhou quota de mercado nos últimos três anos nas vendas para o exterior, que representaram já 40% do produto interno bruto (PIB) em 2013.

Paula Carvalho, economista do departamento de estudos económicos e financeiros do BPI, diz que é expectável que a “procura que vem do mercado interno não regresse imediatamente a valores do passado” e que as exportações continuem a ter um papel determinante, mesmo à margem do contributo que as vendas de combustíveis têm dado. A crise, diz, “demonstrou bem que as empresas devem apostar numa estratégia de diversificação” de mercados. E, para além das vendas de bens energéticos, há áreas onde Portugal tem “conseguido crescer na cadeia de valor e que têm potencial de crescimento: o calçado, o vestuário, a agricultura e áreas de produção intermédia, como as componentes automóveis e os moldes”.

Depois de um aumento de 3,2% em 2012, as exportações de bens e serviços aceleraram para 6,1% no ano seguinte. Mas, nos três primeiros meses deste ano, a queda nas vendas de combustíveis ressentiram-se imediatamente num abrandamento das exportações. Para 2014, o Governo prevê que as vendas de bens e serviços para o exterior abrandem para 5,5% e que o mesmo ritmo se mantenha nos três anos seguintes. A evolução estará sempre dependente do andamento das economias para onde Portugal mais exporta, não apenas na União Europeia (o principal mercado, com Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Holanda à cabeça), mas também fora do espaço comunitário (Angola, Estados Unidos, Brasil, Marrocos e China).

Olhemos para os números do último ano. Com a abertura de uma nova unidade de refinação da Galp, os combustíveis foram os principais responsáveis pelo crescimento das vendas de bens, mas no conjunto dos 47.378 milhões de euros de mercadorias exportadas no ano passado, as exportações de maquinaria continuaram à frente, com um peso de 14,8%, seguindo-se então as vendas de veículos e de combustíveis, cada um com um contributo próximo de 10,5%.

Numa entrevista à cadeia norte-americana CNBC esta semana, o primeiro-ministro não se mostrou preocupado com a “capacidade exportadora” do país. “As nossas exportações continuam a crescer e a liderar a retoma económica”, afirmou Pedro Passos Coelho.

 

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