Três vereadores executivos da câmara do Funchal renunciaram ao mandato

PS reforça a sua posição no elenco camarário, depois de o presidente Paulo Cafôfo forçar a saída de críticos.

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Paulo Cafôfo recusou abandonar presidência e forçou saída dos vereadores críticos DR

A vice-presidente e dois vereadores eleitos pela coligação Mudança renunciaram nesta sexta-feira às funções executivas a Câmara Municipal do Funchal.

A demissão, anunciada no início da noite, será formalizada na próxima segunda-feira pela vice-presidente Filipa Jardim Fernandes (independente proposta pelo PS) e pelos vereadores Gil Canha (PND) e Edgar da Silva (PTP).

“Por respeito aos funchalenses e a todos os colaboradores da Câmara Municipal do Funchal, de forma a devolver a tranquilidade que a cidade merece e não bloquear qualquer solução, não resta outra alternativa do que apresentar a demissão dos cargos de vereadores e deixar o presidente seguir o seu caminho”, justificaram Filipa Fernandes e Edgar Silva. Estes dois autarcas tinham recusado na quinta-feira as competências delegadas em solidariedade com Gil Canha, que abandonou as funções executivas, depois de o presidente Paulo Cafôfo lhe ter retirado o pelouro da fiscalização municipal e Plano Director Municipal.

Criticam Cafôfo por decidir “unilateralmente retirar todos os pelouros” a Canha, acrescentando que esta posição, politicamente, “fractura a coligação”, criando um “problema sério de governabilidade da câmara” e constituindo também um “acto injusto para com um colega de equipa”. Revelam ainda que fizeram “tudo para fazer ver ao presidente que deveria rever a sua posição”, destacando que a resposta foi “o total silêncio” do presidente que fez uma declaração pública na quinta-feira sem convocar os vereadores visados.

Por seu lado, Gil Canha confirmou a renúncia a todos os cargos que tem na Câmara do Funchal, decidida logo depois dos dois outros autarcas, admitindo que sai vencido pelo poder económico regional. "Não foram questões políticas, nem pessoais, nem ideologias ou partidos. Apenas o poder económico do dr. Jardim que rebentou com todos. Foram os interesses económicos dos filhos do jardinismo que está a morrer", denunciou.

Canha diz ainda que “o regime jardinista está agonizando, mas os grupos económicos criados pelo jardinismo estão muito fortes”. Numa acusação directa ao presidente da câmara, acrescenta: “Foi o próprio alcaide a jogar-lhes a chave das ameias da fortaleza. Fomos tomados por dentro”.

Na quinta-feira, justificando a retirada de competências a Canha, o presidente alegou que “estavam a tornar-se insustentáveis as reclamações dos pequenos comerciantes, dos vendedores e pessoas que todos os dias pediam oportunidades, licenças ou espaço para exercer uma actividade económica”.

No início de Março, na sequência de uma manifestação de protesto da administração e dos trabalhadores da Quinta do Lorde” contra o facto de Gil Canha ter interposto uma acção popular contra a construção de um resort numa reserva da Rede Natura 2000 e do Parque Natural da Madeira, os vereadores sociais-democratas, pela primeira vez na oposição no maior município do arquipélago, exigiram a sua demissão, colocando em causa a legitimidade para continuar a desempenhar as funções de vereador responsável pelo urbanismo - consideraram “abusiva e ilícita” a acção subscrita por Canha antes de ser eleito vereador pela coligação Mudança.

Na comunicação de quinta-feira, Paulo Cafôfo apelou ao “bom senso” de Filipa Fernandes e de Edgar Silva, por forma a manterem os seus pelouros ou renunciarem ao mandato. E, garantindo que não abandonaria a presidência, transferiu para os seus críticos a responsabilidade de continuar com uma equipa de quatro elementos (contando com ele e com a vereadora Idalina Perestrelo que se mantém em funções) para assegurar a gestão da maior câmara da Madeira, “com o sentido de responsabilidade que todos os funchalenses esperam e desejam”.

Para os lugares deixados vagos pelos vereadores demissionários deverão entrar Domingos Rodrigues, Maurício Marques e Andreia Caetano, próximos do PS. A coligação Mudança, constituída por seis partidos (PS, PTP, PND, BE, MPT e PAN) conquistou nas últimas autárquicas cinco de 11 mandatos, ficando o PSD com quatro lugares. O CDS-PP e CDU têm um representante cada.

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