Fundadores da Telexfree acusados nos EUA de fraude electrónica de mil milhões de dólares

Pirâmide tem mais de três mil “promotores” em Portugal. Quatro, incluindo três residentes na Madeira, figuram na lista oficial dos 30 maiores credores.

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Três dos maiores credores da Telexfree residem na Madeira DR

Os fundadores da Telexfree, James Merrill e Carlos Wanzeler, foram acusados de conspiração para cometer fraude electrónica , em processo criminal aberto pelo Departamento de Justiça dos EUA em Worcester, no estado de Massachusetts.

O americano James Merrill, de 53 anos, foi preso na sexta-feira, após ter sido conhecida a acusação. O brasileiro Carlos Wanzele,de 45 anos, é considerado um fugitivo da polícia americana, tendo sido emitido mandado de prisão federal. Se forem condenados, poder-lhes-á ser aplicada uma pena de até 20 anos de prisão.

De acordo com a acusação, a empresa Telexfree desenvolveu um esquema de pirâmide, entre Janeiro de 2012 e Março de 2014, tendo recrutado através da VoIP (Voice over Internet Protocol) milhares de "promotores" de alegada publicidade de produtos na Internet. Cada promotor foi obrigado a abrir para a Telexfree uma conta, a um preço determinado, após o que seriam compensados com comissões pela colocação de anúncios na Internet e a venda de pacotes de comunicação. A empresa prometia ganhos superiores a 200%, que em alguns casos podiam chegar aos 39.600 dólares por mês.

A Telexfree aplicou no pagamento das recompensas apenas 1% da receita de vendas de serviço de VoIP, ficando por pagar a esmagadora maioria dos retornos que havia prometido aos promotores existentes, sobretudo aos recém – recrutados, atraídos pelo esquema de dinheiro fácil. Em 2013, a Telexfree registou vendas no valor de 1,016 mil milhões de dólares (722 milhões de euros), mas até ao mês passado as autoridades americanas que investigam o negócio apenas tinham encontrado registos de cerca de 200 milhões de dólares.

A 8 de Março de 2014, a Telexfree anunciou mudanças no seu sistema de compensação e, um mês depois, declarou falência. No passado dia 16 de Abril, a Securities and Exchange Commission obteve uma ordem judicial para congelar os bens de Telexfree e de oito indivíduos relacionados. Desde então, o Ministério Público dos EUA executou 37 mandados de apreensão de bens, avaliados na ordem das dezenas de milhões de dólares.

A acusação feita à empresa norte-americana de telecomunicações pela internet, de ter desenvolvido um fraudulento esquema de pirâmide financeira, poderá afectar os mais de três mil  “divulgadores” que a Telexfree tem em Portugal, sobretudo, na Madeira. Na lista dos 30 maiores credores da empresa estão quatro "promotores" portugueses, três dos quais residentes nesta ilha.

Depois de a Telexfree ter declarado falência, o que levou ao desespero milhares de madeirenses que subscreveram mais de 40 mil contas num valor próximo dos 50 milhões de euros, surgiram outras sociedades que desenvolveram um negócio semelhante, utilizando os mesmos angariadores da empresa norte-americana.

Uma dessas entidades, a WingsMadeira actuava com a marca Wings Network, usando como fachada a Tropikgadget Unipessoal Lda, inscrita na Zona Franca da Madeira desde 5 de Novembro de 2013. Mas a licença foi cancelada pelo governo regional - por resolução publicada a 29 de Abril, no dia imediato ao da divulgação pelo PÚBLICO de que a sucedânea da Telexfree estava licenciada naquela praça financeira - por desenvolver actividades não abrangidas na autorização que permitia beneficiar de isenções fiscais.

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