Militares americanos manifestaram interesse em Beja

Delegação passou pela cidade alentejana no final do ano passado para aferir da possibilidade de transferir unidade actualmente estacionada em Espanha.

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A base aérea de Beja sofreu com a saída dos alemães em 1993 Daniel Rocha

Enquanto os representantes do Estado português geriam o delicado dossier da redução do efectivo norte-americano na base açoriana das Lajes, chegava aos seus gabinetes uma promissora e, ao mesmo tempo, arriscada proposta do outro lado do Atlântico. Há cerca de oito meses, os militares da super-potência mundial sinalizaram o interesse de transferir para Beja a Força de Reacção Rápida sedeada na base aérea espanhola de Moron.

Os responsáveis norte-americanos não estão satisfeitos com as condições em Espanha e estavam a equacionar alternativas. Ao que o PÚBLICO apurou, uma delegação chegou mesmo a visitar a base aérea localizada na cidade alentejana para aferir da possibilidade da deslocalização.

A base foi construída nos anos 60 do século passado ao abrigo de uma acordo bilateral com a Alemanha para aí instalar unidades de instrução da Força Aérea Alemã. Uma das maiores do mundo em termos de área ocupada, sofreu com a saída do efectivo germânico em 1993. Desde então se tem procurado encontrar soluções alternativas para a infra-estrutura. Nomeadamente o uso civil, sem grande sucesso, desde 2011. 

As démarches foram confirmadas ao PÚBLICO por um alto dirigente no Ministério dos Negócios Estrangeiros. E secundadas depois por um responsável do governo regional açoriano, a quem a matéria interessa embora de forma indirecta. É que a possibilidade da instalação de 500 fuzileiros navais norte-americanos e respectiva logística é uma das peças com que se joga o complicado tabuleiro  da redução de efectivos americanos na ilha Terceira.  

No passado mês de Abril, um grupo de 40 congressistas avançaram com uma proposta legislativa para fazer recuar o AFRICOM – comando militar das Forças Armadas americanas responsável pelas missões em África – da Alemanha para os Estados Unidos. Transformando depois a Base das Lajes na base avançada dessa estrutura. E uma das unidades propostas para se instalar na ilha Terceira era precisamente a Força de Reacção Rápida.

O Governo português reagiu com cautela aos contactos. Sem fechar totalmente a porta, Portugal também não colocou todo o seu impulso na concretização dessa mudança. Isto porque Lisboa tem a convicção que a colocação da força militar no Alentejo iria contender com uma possível alternativa para a resolução do problema açoriano.

No Palácio das Necessidades, a presente posição é a de que a possibilidade não tem de ser resolvida para já. Tanto a manutenção dos marines em Moron como a sua mudança para Beja implicam avultados investimentos na reconversão das instalações. O que significa que os norte-americanos não irão tomar uma decisão nos próximos tempos. Do lado dos Açores foi dito ao PÚBLICO que a posição portuguesa era de “abertura” para essa situação, desde que isso “não fosse encarada pelos EUA como uma questão de troca”.

Um problema para os Açores
É perceptível que a auscultação dos militares da super-potência mundial sobre Beja cria um problema aos Açores. Confirma, por exemplo, uma das desvantagens técnicas da localização das Lajes. Está, apesar de tudo, demasiado longe do continente africano. As Força de Reacção Rápida foram constituídas e espalhadas pelo mundo, depois do assassinato do embaixador norte-americano em Benghazi, Líbia. Uma das condições era que essa força estivesse a não mais de duas horas de distância de locais potencialmente perigosos onde estejam colocados cidadãos americanos. A Base das Lajes fica fora desse radar horário. Beja já cumpriria esse requisito.

Mas essa imposição aplica-se à Força de Reacção Rápida e não a outras estruturas do AFRICOM. Nomeadamente os “activos permanentes, incluindo activos aéreos, terrestres, operações especiais e logísticos” desse comando militar. Fazendo assim da base açoriana a “base avançada e plataforma logística” do AFRICOM, conforme a proposta entregue pelos 40 congressistas em Washington.

Embora o Governo português tenha assumido uma posição oficial cautelosa sobre a iniciativa, a realidade é que encara positivamente o esforço desses congressistas ligados ao “caucus” luso-descendente. E não deixa de admitir algumas vantagens da mudança de unidades actualmente espalhadas pela Europa (Alemanha, Espanha e Itália). Nomeadamente o facto de em alguns desses locais existirem problemas relacionados com o sobrecarregamento do espaço aéreo ou com restrições ao sobrevoo.

Em contrapartida, na Ilha Terceira o espaço aéreo é  mais livre, não há problemas de sobrevoo, além de que a muitas das áreas de risco africanas poderiam ser atingidas, por mar, a partir dos Açores sem ter de haver a preocupação com o sobrevoo de países africanos.
 

   

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