Distrito de Lisboa foi o mais afectado pelo fecho de agências bancárias

Na zona de Lisboa já encerraram 115 agências bancárias, num processo de redução de sucursais que tende a continuar.

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Destino das ex-agências após a sua recolocação no mercado é diversificado Nuno Ferreira Santos

Na Alameda dos Oceanos, em Lisboa, no espaço onde antes estava um balcão para atender clientes de um banco há agora secretárias para receber quem precisa de se deslocar à nova junta de freguesia desta zona oriental da cidade. Em Belém, perto do rio Tejo, onde antes havia filas para fazer depósitos ou levantamentos, há agora pessoas a pedir pequenos-almoços. No primeiro caso, uma sucursal do Barclays cedeu o lugar à sede de uma estrutura de poder local. No segundo, o Millennium BCP desapareceu e deu origem a mais uma loja da Padaria Portuguesa. Ambos são exemplos de uma tendência que tem marcado a banca nacional e, por consequência, o espaço urbano: o encerramento de centenas de balcões, substituídos por diversos outros serviços ou apenas por espaços vazios.

Só em 2012 encerraram 374 balcões, segundo dados da Associação Portuguesa de Bancos (APB). No final desse ano, a malha de sucursais do sector bancário era composta por 5932 balcões, o que significa voltar a valores de 2006 (5977). Depois do boom, o emagrecimento é ditado pela contenção de custos e pelas imposições de Bruxelas no âmbito das ajudas dadas a instituições como o BCP, Banif, BPI e Caixa Geral de Depósitos (CGD). O saldo entre aberturas e fechos foi positivo até 2011, mas, no ano seguinte, registou-se uma queda abrupta, com um saldo negativo de 374 agências.

Do total dos encerramentos que se verificaram em 2012, mais de 65% (244 balcões) foram realizados pelas principais instituições bancárias nacionais (Santander Totta, Millennium BCP, BPI, CGD, BIC, BES, Banif, Montepio e Barclays), segundo dados da APB, sendo que estes nove bancos detêm cerca de 82% do total de agências do sector. A este valor há que somar mais 366 balcões que estas instituições fecharam no passado. O BIC, que absorveu o BPN, e que encerrou várias unidades após a fusão, a instituição afirma que não se desfez de nenhuma agência em 2013.

No caso do Santander, BCP, BPI e BES, a redução da rede de retalho tem acontecido desde o início da crise económica e financeira, em 2008, sendo que só estas cinco instituições encerraram um total de 497 destes imóveis até ao ano passado. Comparando 2008 e 2013, verifica-se que o  Santander Totta e o BCP foram as duas instituições financeira que encolheram mais a rede de sucursais: menos 145 e 144 balcões, respectivamente. Segue-se o BPI, com menos 108, e o BES, com menos 100. Já o Barclays destaca-se pela diferença entre 2012 e 2013, período em que fechou 113 agências.

Diferentes destinos
Lisboa foi o distrito que assistiu ao maior número de encerramentos a nível nacional em termos absolutos. Aqui, 115 espaços comerciais deixaram de ser agências, entre 2008 e 2012, para passarem a ser ocupados por outros tipos de negócios. Em termos relativos, é o Funchal que está no topo do ranking, com uma queda de 12% (menos 18). Na Parede, concelho de Cascais, há uma “rua dos bancos” na zona mais comercial. Aqui, onde havia um BIC/BPN está agora colado um cartaz a dizer “vende-se”. Ao lado, um BCP vai dar lugar a uma imobiliária. Com tantas agências a fechar, seria difícil assistir a uma tipologia única de substituição de um serviço por outro. Em alguns casos, os bancos arrendavam o imóvel, mas noutros eram o seu proprietário.

Carlos Récio, associate director da CBRE, consultora do mercado imobiliário, explica que os bancos que estão no mercado há mais anos “e que muitas vezes até são resultado de fusões acabam por ter um portefólio, ainda com alguma dimensão, de imóveis dos quais são proprietários”. Por outro lado, diz, “os bancos mais recentes e aqueles que realizaram um processo de expansão há menos tempo têm a maioria das suas lojas arrendadas”. Quando se trata de transferir o espaço, a recolocação e posterior transacção destas lojas acontece “mais facilmente em zonas urbanas prime, quer seja em áreas de cobertura empresarial, quer seja em zonas que privilegiem o comércio”, adianta. Na mesma lógica, nos meios urbanos menores a procura deste tipo de espaços é mais reduzida “e, em resultado disso, existem bastantes lojas vazias”, diz.

O destino das ex-agências após a sua recolocação no mercado “é diversificado”, e pode albergar “actividades de comércio indiferenciado, restauração, organismos públicos, ou até mesmo balcões de outros bancos”, sendo o perfil de comprador heterogéneo.

Em Belém, perto do Mosteiro dos Jerónimos, onde existia um balcão do Barclays está agora um espaço em reabilitação. Após o encerramento desta agência houve, conta Carlos Récio, uma disputa entre dois interessados por estes 140 metros quadrados que, “não sendo considerados prime, têm bastante procura por serem um destino importante para turistas”. Após um processo que levou “cerca de três meses de negociação”, a CBRE fechou negócio com uma conhecida cadeia de restauração, que ficou em vantagem em relação à concorrente geladaria.

No caso da ex-agência do BCP que é agora uma Padaria Portuguesa, o director-geral da empresa de restauração, Nuno Carvalho, explica que, sendo a localização um factor crítico de sucesso para o seu negócio, “a loja escolhida estava bem posicionada, por ter boa visibilidade e estar numa área interessante”. “Já são várias as lojas que abrimos onde anteriormente operavam agências bancárias”, conta Nuno Carvalho.

Quem por ali passa não parece muito incomodado com a mudança. “Gostamos mais que esteja aqui uma padaria do que um balcão, aqui podemos conviver”, disse Julieta Ribeiro, de 77 anos, acompanhada pela amiga Ducelina Fernandes, de 83 anos. Para estas moradoras de Santa Maria de Belém, freguesia mais antiga de Portugal, este novo espaço com vidros panorâmicos, onde se pode ouvir música popular portuguesa, é agora um ponto de encontro quase todas as tardes.

“A mim não me fez diferença nenhuma [o fim da agência]. Aliás, estava quase sempre vazia”, disse Maria João, trabalhadora num supermercado, referindo-se ao antigo balcão do Barclays, arrendado pela Junta de Freguesia do Parque das Nações numa zona estrategicamente central.

A dinâmica de encerramento de balcões não é um fenómeno exclusivamente português, antes pelo contrário. Este processo tem ocorrido por toda a Europa, com países como Espanha, Itália, Alemanha ou Reino Unido a verem as suas redes bancárias serem reduzidas.

Por outro lado, Portugal tem uma posição privilegiada de acesso a serviços como as máquinas Multibanco, com 192 caixas ATM disponíveis por cada 100 mil adultos. Já na utilização da Internet, apesar do aumento significativo da utilização deste serviço em Portugal, a média de utilizadores estava nos 23% em 2013, aquém dos 42% da média europeia, de acordo com o Eurostat.

O fecho de balcões no mercado nacional, e que já provocou a extinção de quase 4000 postos de trabalho, tende a continuar. Este ano, o Santander, BCP, Banif e Montepio antevêem o fecho de mais 169 agências. Mas o processo de encerramentos será mais profundo, uma vez que outros bancos continuam o ciclo de emagrecimento. Falta saber que novos serviços irão preencher estes futuros espaços vazios.

Texto editado por Luís Villalobos

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