Restauro devolve som original a órgão do século XVIII no Mosteiro de Lorvão

Instrumento foi construído por familiares do escultor Machado de Castro. Regressa agora à actividade após um restauro que dois anos.

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Órgão do Mosteiro de Lorvão vai regressar à actividade DR

Depois de algumas intervenções ao longo dos mais de 200 anos, o órgão de tubos do Mosteiro de Lorvão, em Penacova, que "é o maior órgão histórico construído em Portugal", vai voltar a ser tocado no próximo sábado, dia 3 de Maio, terminado um restauro que devolve ao instrumento o seu som, mas também o número de tubos iniciais – quatro mil –, salientou, em declarações à Lusa, Dinarte Machado, organeiro responsável pelo restauro.

O instrumento, instalado naquele mosteiro do distrito de Coimbra, começou a ser planeado e executado por Manuel Teixeira de Miranda, durante o século XVIII, com a colaboração do seu filho, o escultor Machado de Castro, que criou as esculturas "que ornamentam a caixa do órgão, que é única", realçou Dinarte Machado.

Com a morte de Manuel Teixeira de Miranda, o órgão ficou inacabado, sendo que, 14 anos depois, o seu outro filho, Machado de Cerveira, daria continuidade ao projecto do pai, terminando a execução em 1795.

Machado de Cerveira realizou algumas alterações ao instrumento por "exigência da evolução da música da época", o que levou a uma ampliação do órgão.

Dinarte Machado disse à Lusa que as alterações realizadas por Machado de Cerveira levaram a que o órgão tivesse um "aspecto mais barroco" e que "fosse mais abrangente" em termos musicais, não perdendo qualidade "quando aumentou de tamanho, o que não é normal".

No século XIX, com uma maior aceitação da "sonoridade francesa" do que da "sonoridade barroca", foram tiradas muitas filas de tubos, "nomeadamente as agudas", sendo que também em meados do século XX foram novamente retirados tubos, acrescentou o organeiro, considerando que as intervenções realizadas nessa altura "degradaram o instrumento".

"Há mais de um século que o órgão não estava completo", além de que se encontrava longe do "seu som original", tendo sido repostos cerca de dois mil tubos, frisou Dinarte Machado, que começou o restauro mais recente há dois anos, quando ele estava "todo desmontado".

O desafio era restaurar não apenas a componente estética, mas também a identidade sonora do instrumento, em que se procurava que o som fosse "idêntico" ao original, apesar de a harmonização do órgão ser sempre um trabalho "autoral", influenciado pela forma de ouvir de cada organeiro, aclarou.

Para além dos quatro mil tubos e da caixa desenhada por Machado de Castro, o órgão tem como especificidade a sua colocação a meio "do corpo arquitectónico" da igreja do mosteiro, o que faz com que "não tenha um reflector acústico".

"É um caso único em Portugal e não haverá muitos na Europa", referiu Dinarte Machado, acrescentando que uma das fachadas está virada para o coro, com um cadeiral de duas filas, e a outra virada para "a igreja e para o povo".

O concerto inaugural do órgão histórico realiza-se no próximo sábado, pelas 21h00, a cargo dos organistas João Vaz, de Portugal, e Harald Vogel, da Alemanha, que "foram consultores do trabalho de restauro", disse o organeiro.

O restauro teve um financiamento de 650 mil euros, a partir do programa regional de aplicação de fundos comunitários Mais Centro.

 

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