O contrário do individualismo

Divisor, que a artista plástica brasileira Lygia Pape concebeu em 1968, esteve na tarde terça-feira no Terreiro do Paço, em Lisboa.

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Um lençol humano, o contrário do individualismo Vera Moutinho

Do que precisamos para assumir, nem que por momentos, uma identidade colectiva? Conseguimos ainda entregar o nosso corpo individual a um grande corpo feito de vários corpos, caminhar juntos sem qualquer objectivo específico que não o da partilha de um percurso?

Divisor, que Lygia Pape concebeu originalmente em 1968, esteve na tarde desta terça-feira no Terreiro do Paço, em Lisboa, parte de uma homenagem que a Galeria Graça Brandão faz à artista brasileira nos dez anos da sua morte e que inclui a inauguração, esta noite, às 22h, de uma exposição no espaço da galeria, no Bairro Alto.

Divisor é um dispositivo extremamente simples: um leve tecido branco de 30 metros de lado rasgado por fendas dispostas de forma regular e por onde passam as cabeças de dezenas de pessoas que, envolvidas por este grande manto, são levadas a movimentarem-se juntas.

A artista dizia que “ideologicamente este tipo de proposta é uma coisa muito generosa, uma arte pública da qual as pessoas podiam participar”. Assumindo-se como denotador, um activador do quotidiano, Divisor leva-nos a olhar em volta, para a cidade, como território de actuação experimental e participativa de todos os que a habitamos ou cruzamos. Uma imagem lúdica — mas não por isso menos política… — da comunidade enquanto espaço de encontro entre iguais. O contrário do individualismo.

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