Israel suspende negociações de paz com os palestinianos

Netanyahu denuncia acordo que pode levar o Hamas a um futuro Governo palestiniano.

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O Governo de Netanyahu ameaça com ais "medidas" contra os palestinianos DAN BALILTY/AFP

Israel decidiu nesta quinta-feira suspender as negociações de paz com os palestinianos, na sequência do anúncio de reconciliação entre as facções rivais da Fatah, do Presidente Mahmoud Abbas, e do Hamas, movimento islamista que controla Gaza e que é considerado uma organização terrorista por Israel, EUA e União Europeia.

No final de uma reunião de emergência do gabinete de segurança, o Governo de Benjamin Netanyahu decidiu que “não vai negociar com um Governo palestiniano que inclua o Hamas, uma organização terrorista que apela à destruição de Israel”, refere um comunicado do gabinete do primeiro-ministro.

“Por outro lado, Israel vai tomar um certo número de medidas como resposta aos gestos unilaterais” dos palestinianos, acrescenta o texto divulgado no final da reunião dos principais ministros de Netanyahu, que durou cinco horas. O comunicado não refere quais são essas “medidas”.

Terça-feira, o primeiro-ministro israelita já tinha avisado que Abbas “tem se escolher”. “Ou quer a paz com o Hamas ou com Israel. Pode ter uma, mas não terá as duas”, disse Netanyahu.

“As ameaças israelitas não nos assustam. Israel quer que nós continuemos fracos e divididos”, disse à AFP o deputado palestiniano independente Moustafa Barghouti, membro da delegação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) que assinou na quarta-feira em Gaza o acordo com o Hamas.

Esta reconciliação, alcançada quase sete anos depois da guerra que levou à separação de facto dos territórios palestinianos de Gaza e da Cisjordânia, prevê a formação de um Governo de unidade nas próximas cinco semanas e a organização de eleições no prazo de seis meses. Abbas, que assumiu a tarefa de formar um Governo de “consenso nacional” que será dirigido por si, já começou a fazer consultas junto de personalidades independentes.

EUA insatisfeitos

Os Estados Unidos também reagiram com frieza ao acordo, afirmando que vão ter que reconsiderar os seus programas de assistência aos palestinianos se o Governo de unidade se concretizar com a inclusão de membros do Hamas.

“Qualquer Governo palestiniano tem que se comprometer explicitamente e sem qualquer tipo de ambiguidade à não-violência, ao reconhecimento do Estado de Israel e à aceitação de acordos e obrigações assumidas previamente entre as partes”, disse um responsável norte-americano, citado sob anonimato no jornal israelita Yedioth Ahronoth, listando termos que o Hamas sempre rejeitou.

Um dos dirigentes da OLP, Yasser Abed Rabbo, afirmou que é cedo para Israel e EUA penalizarem um Governo que ainda não existe. “Aquilo que aconteceu em Gaza nos últimos dois dias foi apenas o primeiro passo”, disse a uma rádio palestiniana. “Mas esse passo não deve ser exagerado, não podemos dizer que tenha sido completamente alcançado um acordo de reconciliação… Temos que ver muito bem qual vai ser o comportamento do Hamas nos próximos dias e semanas em relação a várias questões.”

O acordo entre palestinianos foi anunciado numa altura em que as negociações paz com Israel estavam num estado quase moribundo – tem sido o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que se tem esforçado, sem sucesso, por reanimar um processo que se arrasta sem resultados tangíveis desde que foi retomado em Julho de 2013.

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