Câmara do Porto põe à venda casa que Manoel de Oliveira nunca usou

As duas fracções estão avaliadas em cerca de 1,5 milhões de euros. Fundação de Serralves deverá receber a nova casa dedicada ao cineasta.

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José Carlos Coelho

A Câmara do Porto quer vender a Casa Manoel de Oliveira, na Foz, projectada pelo arquitecto Souto de Moura para o realizador português, mas que nunca foi utilizada. As duas fracções que constituem o equipamento – uma de habitação e outra destinada a um equipamento cultural - vão a hasta pública no próximo dia 7 de Maio. O valor base de licitação da primeira fracção é de 568.800 euros e da segunda é de pouco mais de um milhão de euros.

Em declarações à TSF, o presidente da autarquia, Rui Moreira justificou a venda do equipamento com o acordo realizado entre o cineasta e a Fundação de Serralves, com o objectivo de construir uma nova casa para Oliveira. “A partir desse momento a casa deixa de ter o uso que se pretendia e, não tendo, neste momento, outro uso adequado para lhe dar, entendemos que não podemos continuar a manter ali o edifício”, disse o autarca.

A Casa Manoel de Oliveira é da autoria do arquitecto Eduardo Souto de Moura e Rui Moreira tem a expectativa que os cerca de 1,5 milhões de euros pedidos pelas duas fracções sejam amplamente ultrapassados pelos potenciais interessados. “Ainda na última [hasta pública] os valores atingidos por alguns edifícios excederam em 40% o valor base [pedido]”, afirmou o presidente da câmara.

A hasta pública está agendada para as 10h30 do dia 7 de Maio. O valor base de licitação foi definido pelo departamento do Património da autarquia e Rui Moreira diz ter “total confiança” de que o preço estipulado, tendo por base critérios como o estado de conservação, o valor patrimonial ou o investimento feito é “razoável”.

O projecto daquela que deveria vir a ser a Casa do Cinema Manoel de Oliveira foi lançado em 1998, aquando do 90.º aniversário do realizador de Aniki-Bóbó. A Câmara do Porto, então presidida pelo socialista Fernando Gomes, escolheu o arquitecto Eduardo Souto de Moura para fazer o projecto. Este respondia ao manifestado desejo do cineasta de que o seu acervo documental ficasse na sua cidade natal. A casa teria a valência de museu, mas também de centro de estudos da sua obra e ainda de eventual residência ou local de trabalho para Oliveira.

A obra avançou, e ficou pronta em 2003. Só que, entretanto, verificou-se uma mudança política na autarquia. No final de 2001, o social-democrata Rui Rio vence Gomes nas eleições autárquicas e sucede à gestão socialista na Câmara (com o final do mandato a ser presidido por Nuno Cardoso), sem que esta tivesse formalizado o acordo com o realizador relativo à utilização da “Casa do Cinema”.

Ao assumir o cargo, Rio promete retomar as negociações com Oliveira para a assinatura definitiva do protocolo. Mas o processo acaba por se prolongar, sem que ambas as partes cheguem a acordo quanto ao modelo de gestão do edifício. E nem mesmo a celebração do centenário do realizador, em 2008, traria um desfecho positivo na negociação.

Entretanto, e à margem desse processo, nesse ano, a Fundação de Serralves – que tomou em mãos a comemoração do centenário, com uma retrospectiva e uma exposição documental da obra de Oliveira – inicia negociações com o realizador para acolher o seu acervo. O acordo foi anunciado publicamente em Novembro do ano passado: a Casa do Cinema Manoel de Oliveira será instalada em Serralves, e o autor do edifício é o arquitecto Álvaro Siza, que desenhou um projecto de adaptação da antiga garagem do Conde de Vizela a que será acrescentado um novo corpo, para acolher um centro de documentação, auditório, serviço educativo, galeria de exposições...

Ficava definitivamente posta de parte a utilização do edifício desenhado por Souto de Moura, que terá custado mais de dois milhões de euros, e que se tem vindo a degradar progressivamente por ausência de uso.

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