O Benfica sensível

Ser magnânimo está no sangue dos benfiquistas.

Não vejo os jogos do Benfica. Sinto-os. E ouço-os. As paredes da minha casa tremem com cada golo. Os quase-golos são assinalados por sonoros ais. Não poderia ser mais emocionante ou informativo. É o único tipo de relato que consigo ouvir.

Felizmente o café por baixo da minha casa é frequentado por benfiquistas. São comedidos, ainda por cima. Só se manifestam quando o Benfica marca ou quase marca um golo. Se os adversários marcam, não uivam nem batem nas mesas nem dizem obscenidades. O luto é sofrido estoicamente, em silêncio.

Nem tão-pouco assinalam o fim do jogo – nem mesmo a conquista do campeonato no domingo – com vivas escusados. É natural que ganhe o Benfica. A única curiosidade é saber como serão marcados os golos.

Olhando para o cabo da Roca, vejo o Clube do Sporting de Almoçageme. É uma bela e única organização. Não posso olhar para onde a terra acaba e o mar começa sem ver a bandeira do Sporting. No princípio, hesitava se seria um azar, uma afronta ou uma raridade. Depois percebi que era um contrapeso. Eu ouvia e sentia o Benfica, mas era o raio do Sporting que me enchia e estragava a vista. Como benfiquista que sou, não me importo.

Quero o bem dos outros clubes: é o que distingue o benfiquista dos outros clubes. Sou fã do Futebol Clube do Porto e fanático do Sporting Clube de Braga. Até compreendo ser do Sporting de Lisboa, que também há.

Ser magnânimo está no sangue dos benfiquistas. Deve ser por isso que nos odeiam: paciência.

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