Jornalistas franceses raptados na Síria foram mantidos numa cave sem luz, amarrados uns aos outros

No regresso a França, os quatro repórteres libertados na madrugada de sábado na fronteira com a Turquia, relataram as condições "rudes" e "difíceis" do seu cativeiro.

Foto
François Hollande recebeu os jornalistas no aeroporto militar de Villacoublay, perto de Paris Gonzalo Fuentes/REUTERS

Os quatro jornalistas franceses raptados por um grupo jihadista na Síria tinham as famílias e o Presidente da República, François Hollande, à sua espera no regresso a Paris, depois de dez meses de cativeiro. À chegada, os reféns referiram a sua “enorme alegria” e “imenso alívio”, um sentimento partilhado por Hollande que aproveitou para recordar que permanecem ainda cerca de 30 jornalistas raptados na Síria.

“É uma enorme alegria e um imenso alívio estarmos livres; ver o céu, que não víamos há tanto tempo, respirar o ar fresco", declarou Didier François, um veterano correspondente de guerra da rádio francesa Europe 1, sequestrado a 6 de Junho com o fotógrafo Edouard Elias, a caminho da cidade de Alepo. Dias depois, Nicolas Hénin e Pierre Torres, dois jornalistas independentes, foram raptados em Raqqa, no Norte da Síria.

Os quatro contaram que durante todo o período de cativeiro foram mantidos em caves sem luz natural, que passaram longos períodos algemados e amarrados uns aos outros, e que “nem sempre” foram bem tratados pelos seus captores, presumivelmente militantes do Estado Islâmico do Iraque e Levante, uma organização radical que integra a Al-Qaeda e se estima tenha cerca de 5000 combatentes, a maior parte activa nas províncias do Norte e Leste da Síria.

“As condições de detenção eram rudes”, relatou François. “Num país em guerra, nada é simples, seja a alimentação, a água, a electricidade… Quando os combates se aproximavam, éramos transferidos à pressa, em condições um tanto ou quanto absurdas”, recordou o jornalista radiofónico. Emocionado, Nicolas Hénin, que trabalhava para a revista Le Point e o canal de televisão Arte, apenas foi capaz de confirmar que “nem sempre fomos bem tratados. Foi muito difícil”.

“Foi uma longa provação, mas nunca duvidámos [da libertação]. De tempos a tempos, ouvíamos algumas informações, sabíamos que havia uma grande mobilização”, prosseguiu Didier François, confirmando que alguns dos captores falavam francês. O repórter de guerra manifestou a gratidão do grupo pelo esforço “ absolutamente formidável dos diplomatas e agentes dos serviços secretos, que trabalharam 24 horas por dia e sete dias por semana para nos tirar de lá”.

O Governo francês admitiu ter negociado a libertação dos reféns, mas negou o pagamento de qualquer resgate, sob a forma de dinheiro ou de fornecimento de armamento aos rebeldes islamistas. “A França não paga resgates. Esse é um princípio muito importante para impedir que os sequestradores se sintam tentados a raptar outras pessoas”, frisou o chefe de Estado. “O que fizemos foi discutir e negociar, mas não vou fornecer detalhes”, acrescentou.

De acordo com a AFP, os serviços secretos franceses “seguiram o rasto” dos quatro reféns, e em “estreita coordenação” com os seus congéneres espanhóis, britânicos e norte-americanos, e ainda com a Turquia, montaram uma “operação para a sua extracção da Síria”. Em nenhum momento foi estabelecido qualquer contacto com o Governo do Presidente sírio Bashar al-Assad, assegurou o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius.

As negociações foram conduzidas ao mais alto nível pelo Presidente Hollande, o ministro da Defesa Jean-Yves Le Drian e o chefe dos serviços secretos, Bernard Bajolet. “Os três estabeleciam contactos regulares, várias vezes por semana” e Le Drian terá realizado uma “deslocação discreta à Turquia” que permitiu pôr em marcha a operação que culminou com a libertação dos quatro reféns, escreve a agência.

Os jornalistas franceses foram encontrados na madrugada de sábado, novamente amarrados e com os olhos vendados, por soldados da Turquia, na zona da fronteira com a Síria. Foram transportados para a esquadra de polícia da localidade de Akçakale, onde foram identificados, e posteriormente submetidos a exames médicos.

Sugerir correcção
Comentar