Casos de depressão aumentam em pessoas com mais de 45 anos

Maior crescimento de novos casos de depressão diagnosticados nos centros de saúde verificou-se nos homens entre os 55 e os 64 anos.

Foto
A doenaç é caracterizada por perda de memória, desorientação, depressão e deterioração das funções corporais Foto: Daniel Rocha

O número de novos casos de depressão diagnosticados nos centros de saúde cresceu entre 2004 e 2012, sobretudo nos homens entre os 55 e os 64 anos e nas mulheres entre os 45 e os 54 anos, indica um estudo feito pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Alertando para as limitações na recolha de dados, os autores do trabalho observam que se verificou “uma coincidência temporal entre o aumento da taxa de incidência anual estimada de primeiros episódios de depressão nos cuidados de saúde primários e o agravamento das condições sociais e económicas de Portugal”. Um fenómeno que “sugere a necessidade de monitorização da evolução da depressão e estudo dos seus determinantes em Portugal”, defendem.

Liderado pela investigadora Ana Paula Rodrigues e agora publicado na última edição do Boletim Epidemiológico do INSA, o estudo teve como objectivo comparar as taxas anuais de novos casos de depressão entre 2004 e 2012, com base nos dados obtidos a partir da Rede Médicos-Sentinela -  constituída por médicos de família que, de forma voluntária, fazem uma recolha e notificação sistemática de dados . As consultas relacionadas com a depressão foram estudadas em 2004, antes da crise, e voltaram a ser tema de análise em 2012, quando já se fazia sentir o efeito das medidas de austeridade.

“Os determinantes sociais, económicos e ambientais desde há alguns anos que são reconhecidos como determinantes na saúde mental, e existe evidência de que as alterações socioeconómicas vivenciadas na última década, consequentes da crise económica e social, estão associadas ao aumento do risco de diversos problemas de saúde mental”, sublinham os investigadores.

“Esta é uma abordagem exploratória. O que é mais importante é ir fazendo uma monitorização e comparação [destes dados] com outras fontes de informação. Eventualmente, tentar desenvolver outros tipos de estudo, ver se há factores que expliquem [esta evolução nestes grupos]. O que é preciso é continuar a manter este problema sob vigilância”, sublinha Ana Paula Rodrigues.

A depressão, já se sabia, afecta muito mais as mulheres do que os homens. De acordo com as conclusões deste estudo, no caso do sexo feminino, foram registados 882 novos casos de depressão por cada 100 mil mulheres em 2004, um número que subiu para 992 novos casos em 2012. No sexo masculino, passou-se de 290 casos por 100 mil, em 2004, para 347, em 2012 Em termos globais, os investigadores consideram que a evolução neste período até não foi muito significativa, mas alertam que, quando se observam os dados por grupos etários, há variações significativas.

Se, por um lado, entre os 15 e os 24 anos o número de novos casos de depressão até caiu, por outro, nas mulheres entre os 45 e os 54 anos e com mais de 75 anos houve um crescimento assinalável. Do lado dos homens, o aumento fez-se sentir, sobretudo, na faixa etária dos 55 aos 64 anos. Foi justamente neste grupo que o crescimento foi mais acentuado no período em análise, um resultado que não surpreende os investigadores.

Em Espanha encontrou-se um aumento de episódios não só de depressão, mas de ansiedade e doenças mentais em geral, nos homens, após a crise. Explicação? ,”Talvez pelo diferente papel social que desempenham, os homens parecem estar em maior risco”, diz Ana Paula Rodrigues.  Existe “evidência de que em contexto de crise os homens estão em maior risco de desenvolver doenças mentais”, referem, a propósito, os autores do estudo.

A Rede de Médicos-Sentinela diminuiu entre 2004 e 2012, tendo passado de cerca de 150 profissionais notificadores para 115.  A redução da população sob investigação pode " ter condicionado um viés de selecção", avisam, a propósito, os investigadores.

 

 

Sugerir correcção
Comentar