Fusão da Holcim e Lafarge será concluída em 2015
Operação entre as duas maiores cimenteiras do mundo tem um valor próximo dos 40.000 milhões de euros.
As duas maiores cimenteiras do mundo, a suíça Holcim e a francesa Lafarge, anunciaram nesta segunda-feira um acordo de fusão, abrindo caminho à criação da maior empresa cimenteira do mundo, com um valor de 40.000 milhões de euros.
Os dois grupos pretendem fechar o negócio até ao primeiro trimestre de 2015 e as acções na nova empresa vão estar cotadas nas bolsas de valores de Paris e de Zurique.
A nova empresa, que deverá designar-se LafargeHolcim, "terá uma posição única em 90 países e será uniformemente equilibrada entre os países em desenvolvimento e os em forte crescimento", refere um comunicado conjunto das empresas.
O conselho de administração será presidido por Wolfgang Reitzle, enquanto Bruno Lafont assumirá o papel de presidente executivo.
As linhas gerais da fusão foram aprovadas pelas administrações das duas empresas em reunião realizada este sábado, segundo avançou o jornal francês Le Figaro, na edição online de domingo.
O encontro também foi confirmado pela Reuters, junto de fonte conhecedora do processo, que adiantava que os termos da fusão das duas cimenteiras, até agora grandes rivais, seria anunciado nesta segunda-feira.
Na sexta-feira, as duas empresas tinham já confirmado a existência de negociações com vista à sua fusão. Através de comunicados idênticos, diziam estar "em conversações avançadas" para uma possível combinação dos seus negócios. Tendo conta o que dizem ser a "enorme complementaridade" ao nível dos portefólios, e a "proximidade cultural", sublinhavam ser racional considerar uma fusão.
De acordo com o Le Figaro, a operação passará pelo lançamento, por parte da Holcim, de uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a Lafarge (cujo valor de mercado é menor), a ser paga integralmente em acções. Ou seja, quem aceitar vencer acções da Lafarge recebe acções da Holcim, pelo que a operação acaba por revestir as características de uma oferta pública de troca (OPT) de títulos.
Ainda de acordo com o jornal, no encontro de sábado também já ficou decidido que a sede da nova empresa ficará na Suíça, mas mantendo sedes operacionais nos dois países. E que o presidente executivo da nova empresa será Bruno Lafont, o actual CEO da Lafarge. Este movimento fará disparar ainda mais os valores das fusões e aquisições, que ganharam novo fôlego este ano. De acordo com dados da Bloomberg, é a Europa quem tem liderado pela nova vaga, com 110 mil milhões euros só nos primeiros três meses do ano (com destaque para os negócios em Telecomunicações e Tecnologia).
Segundo a fonte citada pela Reuters, na reunião de sábado os responsáveis das duas empresas já começaram a analisar eventuais problemas de concorrência, uma matéria delicada, já que a operação terá de receber luz “verde” da Comissão Europeia, bem como dos reguladores de outros países.
Bruxelas terá de avaliar se a união das duas cimenteiras cria uma posição de domínio em mercados como o europeu e o norte-americano. Ao nível da decisão comunitária, esta poderá passar por uma aceitação condicionada, ou seja, impondo a venda de algumas fábricas. Vários concorrentes viram as suas acções subir na sexta-feira, já que a possível venda de fábricas significará o reforço de outras empresas, como a alemã Heidelberg, a irlandesa CRH, as italianas Buzzi e Italcementi, a mexicana Cemex e as brasileiras Camargo Corrêa (dona da Cimpor) e Votorantim. Isto apesar de, conforme afirmou uma analista à Reuters, os negócios serem muito complementares, ou seja, não existe muita sobreposição. A Lafarge está mais presente em África e no Médio Oriente, enquanto a Holcim cresceu mais na América Latina.
A união dos dois gigantes europeus permitirá uma redução de custos e ajudará a enfrentar o aumento dos preços da energia, numa conjuntura de redução da procura, iniciada em 2008 com a crise financeira internacional. Em consequência da crise, tanto a Lafarge como a Holcim tiveram que reduzir a actividade de muitos dos seus fornos, havendo casos em que a operação começou a gerar prejuízos.
As duas empresas apresentam um endividamento elevado, que no caso da Lafarge tem sido alvo de vários cortes de ratings, encontrando-se actualmente em níveis abaixo do chamado investment grade (especulativo ou lixo).
As duas companhias praticamente repartem a liderança mundial do mercado de cimentos. A Holcim emprega, actualmente, 71 mil pessoas em 70 países, enquanto a Lafarge ocupa 65 mil trabalhadores em 64 mercados diferentes.
Os nomes dos dois gigantes do cimento não são estranhos em Portugal. A Holcim chegou a avançar, aliada a Pedro Queiroz Pereira (que controla a Secil), para uma oferta pública de aquisição sobre a Cimpor que acabou por não ter sucesso. Nesse processo, a Lafarge adquiriu uma posição de 17% na cimenteira portuguesa que acabaria por vender à Camargo Corrêa quando o grupo brasileiro assumiu uma posição de controlo na companhia.