No Facebook são sete mil, mas na rua apenas meia dúzia protestou contra cortes definitivos

Reformados no Facebook é um grupo de reformados e pensionistas que se assume de forma “livre e independente”, que quer espicaçar os cidadãos que estão conformados com as medidas de austeridade.

Manhã de segunda-feira. Chuva, muita chuva. Na rua, junto à Presidência do Conselho de Ministros, juntaram-se meia dúzia de reformados, numa acção de protesto contra aquilo que suspeitavam que “estava a preparar lá dentro”, a decisão de tornar definitivos cortes que começaram por ser temporários.

Na página do Facebook chegam quase aos sete mil, mas foram apenas seis elementos a protestar contra os cortes permanentes nas pensões. E não será apenas a chuva a culpada. Disso os seis representantes do grupo não têm dúvidas. O que há, dizem, é uma "hipocrisia generalizada".

“Este Governo é imoral por andar a tirar onde não deve e, ao mesmo tempo, por andar a gastar nos gabinetes ministeriais, com subsídios de representação”, dizia Almerinda Pedro.

Na Presidência discute-se o DEO (Documento de Estratégia Orçamental) que vai definir medidas de consolidação orçamental para 2015. Em foco estão, novamente, as reformas dos pensionistas e os salários dos funcionários públicos. A intenção dos membros do Governo é tornar definitivos os cortes destes rendimentos, bem como o alargamento da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES).

“Estão a retirar-nos um direito que é privado, contribuímos a vida inteira para a sustentabilidade da segurança social, para onde foi esse dinheiro?”, perguntava Almerinda Pedro, de 61 anos.

“As medidas governamentais estão a afectar uma franja da sociedade muito grande (…) Se as despesas públicas no âmbito da organização social são para toda a sociedade, porque é que só os funcionários públicos e os reformados é que são abrangidos?”

Almerinda, uma das sete mil pessoas do grupo de reformados do Facebook, com muitas questões a colocar ao Governo, tecia concretamente críticas à actuação do ministro do Trabalho e da Segurança Social. “Pedro Mota Soares começou por andar de lambreta, agora anda de carrão”, comentava em tom irónico.

Os seis que representam os sete mil pretendem alertar a classe dos reformados para a importância do voto nestas eleições europeias. “Basta que 20% dos 3,3 milhões de reformados vote contra os partidos do arco da governação para que haja uma mudança”, afirmava Fernando Loureireiro, antigo bancário do BCP, apelando à necessidade de combater a abstenção daqueles que estão indignados mas que estão a pensar não participar no sufrágio de 25 de Maio.

Fernando Loureiro sente - e os restantes manifestantes assinam por baixo -  que foi sucessivamente enganado pelos políticos que têm governado o país nos últimos anos e já não deposita qualquer crédito nos partidos com assento parlamentar. “Acredito sim em cidadãos livres, numa renovação total, com iniciativas, que não estejam vinculadas a partidos”.

O grupo entregou na semana passada uma carta à ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, e outra ao ministro Saúde, Paulo Macedo, a expressar as queixas dos reformados, pedindo inclusivamente aos dois ministérios uma reunião para o grupo “se dar a conhecer”. A par dessas iniciativas, o grupo pondera estar presente na manifestação da MURPI (Confederação de Reformados e Pensionistas), no dia 12 de Abril, a exigir um representante dos reformados no Conselho Económico e Social. 

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