A Liga das Nações é só mais uma revolução na UEFA de Platini

Desde que foi eleito, em 2007, o francês quis mexer em muitas áreas do futebol europeu. A partir do Verão, a meta poderá ser a FIFA.

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Platini é presidente da UEFA desde 2007 Robert Atanasovski/AFP

A eleição do presidente da UEFA em 2007 foi vista por muitos como uma escolha entre a “juventude” e a vontade de mudança de Michel Platini e a estabilidade de décadas de experiência de Lennart Johansson. Venceria o francês e as promessas de mudança saíram rapidamente dos dossiers no seu gabinete de Nyon para os relvados europeus.

A mais recente inovação da era Platini começou a ganhar forma esta quinta-feira com a aprovação unânime da Liga das Nações, mais um passo na revalorização dos jogos entre selecções que o francês quer implementar. A nova competição, com início marcado para 2018, quer ir beber ao sucesso financeiro da Liga dos Campeões e promover embates entre as grandes equipas nacionais da Europa.

Em sete anos, muito mudou no futebol europeu pela mão de Platini, sempre com a polémica que lhe é característica como pano de fundo. Logo no primeiro mandato, a introdução do fair play financeiro foi a sua maior vitória, “uma mudança incondicional na Europa do futebol”, como afirmava o ex-jogador em 2010. Trata-se de um conjunto de regras que visam impedir os clubes de futebol de terem gastos superiores às suas receitas. Quem não cumprir fica impedido de participar nas competições europeias.

Na mira de Platini estavam os clubes comprados por milionários que, num par de anos, montam equipas de classe mundial com estrelas pagas a peso de ouro. “Se as pessoas de fora querem pôr dinheiro num clube, tudo bem, mas a minha preocupação é o que vai acontecer quando mudarem de ideias e tirarem o dinheiro? Então esses clubes desaparecem”, dizia Platini à revista World Soccer, em 2012.

Inicialmente previsto para ter efeitos apenas a partir da época 2014/15, o fair play financeiro já fez uma “vítima”. O Málaga, detido desde 2010 pelo xeque Abdullah Al Thani, membro da família real do Qatar, ficou impedido de participar nas provas europeias durante três épocas.

A corrupção no futebol é outra das batalhas travadas por Platini à frente da UEFA, que se socorreu de um software de sinalização prévia, o Sportradar, para detectar jogos suspeitos de serem combinados. O sistema alerta sempre que “alguém aposta uma grande quantidade de dinheiro num jogo, uma quantidade muito superior à da aposta média”, explicou à Spiegel um funcionário da UEFA. No entanto, o sistema é “basicamente cego, perante muitas apostas pequenas feitas em serviços de apostas diferentes”, disse a mesma fonte.

Em Agosto, o Fenerbahçe foi suspenso das competições europeias por duas temporadas depois de ter sido castigado pela UEFA por um caso de jogos combinados durante a época de 2010/11. O FC Porto esteve também perto de ser excluído das competições europeias em 2008, em virtude do processo Apito Dourado, mas acabou por participar na Liga dos Campeões, para desagrado de Platini, na altura.

Europeu de 24 equipas

Mesmo quando se mostra resistente à mudança, o ex-capitão da selecção francesa campeã europeia em 1984 não deixa de apresentar o seu próprio plano. Foi o que aconteceu em relação ao debate sobre a introdução da tecnologia para auxiliar a arbitragem, que Platini rejeita, apelidando a ideia de “futebol de Playstation”. “O árbitro deve ser ajudado pelos clubes, adeptos, jogadores, meios de comunicação e pelas autoridades”, defendeu.

A solução de Platini para os problemas da arbitragem foi posta em prática em 2010, com a introdução de dois árbitros de baliza para os jogos da Liga Europa. Na época seguinte, passou a ser a Liga dos Campeões a adoptar o sistema, seguindo-se ainda o Campeonato Europeu de 2012.

Entre as decisões mais polémicas dos seus dois mandatos estão a alteração ao número de participantes no Europeu – que a partir de 2016 vai passar a contar com 24 selecções – e a organização do Campeonato Europeu de 2020 que vai passar por 13 cidades de países diferentes.

O seleccionador alemão, Joachim Low, foi um dos que considerou “questionável” o alargamento da competição para 24 equipas, despertando uma reacção forte de Platini: “Então que não jogue.” A lógica do presidente da UEFA parece ser a do “quantos mais, melhor”, que o próprio chegou mesmo a sugerir à FIFA. Confrontado com a possibilidade de a zona europeia perder lugares na fase final do Campeonato do Mundo, Platini propôs um Mundial com 40 equipas. “O futebol está a mudar, temos 209 associações, porquê reduzir? Fazemos mais pessoas felizes.”

Quanto ao Europeu espalhado pelo continente, é o próprio Platini que descreve o modelo como “pateta”, mas que não deixa de ser “uma boa ideia”.

Entre as ideias mais “patetas” e as mais sérias, depois de ter deslumbrado nos relvados europeus, Platini tenta agora deixar a sua marca numa arena mais política. E a candidatura à liderança da FIFA está já na mente do ex-jogador. Platini considera-se a única pessoa capaz de derrotar Joseph Blatter, de quem chegou a ser colaborador, mas a decisão só chega depois do Mundial do Brasil. 

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