Obama exorta europeus a reduzirem a dependência do gás russo

"A Rússia está isolada", disse o Presidente americano em Bruxelas, e ameaçou com mais sanções se Moscovo fizer novas incursões na Ucrânia.

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“A Europa terá de examinar, à luz do que aconteceu, a sua política energética", disse Obama GEORGES GOBET/AFP

O Presidente americano, Barack Obama, avisou nesta quarta-feira a Rússia de que os Estados Unidos e a União Europeia (UE) avançarão de forma concertada com novas sanções, nomeadamente no sector da energia, se Moscovo prosseguir as suas incursões pela Ucrânia. Ao mesmo tempo, Obama apelou aos parceiros europeus para diversificarem as suas fontes de energia, de modo a reduzirem a sua dependência do gás russo.

A Rússia assegura 30% do consumo médio de gás natural do conjunto dos Vinte e Oito e 100% do dos países bálticos. Estas afirmações de Obama poderão ser interpretadas como um incentivo à exploração de gás de xisto – por enquanto proibida na maioria dos países da UE –, que tem permitido um aumento em flecha da produção nos Estados Unidos e uma redução muito significativa dos preços.

A América tem sido “abençoada” com novos recursos, afirmou, defendendo que todas as fontes de energia têm inconvenientes, mas que é preciso fazer escolhas. “A Europa terá de examinar colectivamente, e à luz do que aconteceu, a sua política energética”, enfatizou.

Entre as possibilidades de diversificação energética, o Presidente americano sublinhou que os europeus poderão contar com exportações de gás dos Estados Unidos logo que um acordo de comércio livre entre os dois blocos (TTIP), actualmente em negociação, estiver concluído. Até lá, Washington olhará numa perspectiva de “urgência” para a possibilidade de facilitar as exportações – que precisam actualmente de autorizações especiais da Administração americana –, afirmou Obama no final de uma cimeira de menos de duas horas com os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, Herman Van Rompuy e Durão Barroso, em Bruxelas.

Este processo não poderá, no entanto, ser feito “de um dia para o outro” e levará mesmo “anos”, avisou.

A afirmação refere-se aos gigantescos investimentos que terão de ser feitos pelos europeus para construir os terminais de gás natural liquefeito, transportado por mar, necessários para acolher a produção americana.

Durão Barroso confirmou, por seu lado, que europeus e americanos se reunirão na próxima semana sob a presidência dos seus chefes da diplomacia, respectivamente Catherine Ashton e John Kerry, para debater as possibilidades de cooperação nesta área.

Obama insistiu em que a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia constitui uma clara violação do direito internacional e que europeus e americanos estão unidos na sua rejeição. Se os líderes russos pensaram que poderiam dividir os aliados, “fizeram um erro de cálculo”, frisou. “A Rússia está isolada.”

“O que estamos agora a fazer é a coordenar o potencial para sanções adicionais, mais profundas, se a Rússia continuar com novas incursões na Ucrânia”, avisou, sublinhando que a energia “será, obviamente”, um dos sectores que serão “firmemente” considerados.

O Presidente americano expressou igualmente alguma preocupação com os cortes operados nos orçamentos de defesa nos países europeus, afirmando que todos os membros da NATO terão de contribuir. “A situação na Ucrânia lembra-nos que a liberdade tem um preço”, afirmou.

T-TIP não vai desproteger consumidores e ambiente
Obama afastou, por outro lado, os receios que se acumulam tanto nos Estados Unidos como na Europa sobre o novo acordo de comércio livre transatlântico – T-TIP –, cujas negociações não deverão estar concluídas antes do final de 2015. Segundo afirmou, são “injustificadas” as suspeitas de que algumas disposições do acordo poderão reduzir os níveis de protecção ambiental e dos consumidores.

Ao longo da sua carreira política, sempre defendeu elevados níveis de protecção nestas áreas e, por essa razão, não tem qualquer intenção de assinar nenhum acordo que desfaça os progressos conseguidos, garantiu. Por isso, afirmou, “a agitação sobre disposições potenciais que ainda não foram decididas não tem sentido”.

Obama reconheceu, no entanto, que algumas das suspeitas contra o acordo estão ligadas à globalização e ao receio de que só traga benefícios para alguns. Por essa razão, “é importante para nós, líderes, assegurar que o comércio ajuda as pessoas na base e a meio da escala [de rendimentos] (...) e não apenas uma pequena elite”, defendeu.

Obama, que se encontrou durante a tarde com o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, afirmou ainda que a Aliança Atlântica terá de examinar planos de contingência para a defesa dos países da Europa de Leste de eventuais provocações da Rússia. E considerou que não tem qualquer sentido falar agora de qualquer cenário de adesão das ex-repúblicas soviéticas da Moldávia e da Geórgia. 

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