O Pritzker de Shigeru Ban como sintoma da força da arquitectura "da mudança social”

Críticos e peritos elogiam a escolha do Pritzker de 2014, que personifica " a actual disposição da arquitectura"

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Shigeru Ban frente à catedral de Christchurch em 2012 MARTY MELVILLE/AFP
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O átrio do Pompidou de Metz DR
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O exterior do Pompidou de Metz DR
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O Nomadic Museum na praia de Santa Monica, Califórnia, em 2005 Lucy Nicholson/REUTERS
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O interior do Nomadic Museum DR
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Nomadic Museum DR
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O projecto do Aspen Art Museum DR
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O Aspen Art Museum deve estar completo em Agosto de 2014 DR
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A catedral neo-zelandesa quando do sismo que a destruiu em 2011 Bridgit Anderson
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O exterior da "catedral de cartão" de Christchurch Bridgit Anderson
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O interior da catedral de Christchurch Bridgit Anderson
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A Naked House, erigida em 2000 em Saitama DR
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As Paper Log Houses, construídas em Kobe em 1995 após o sismo DR
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Os 14 andares do Nicolas G. Hayek Center (2007), em Tóquio, cujas persianas de vidro nas fachadas são passíveis de abertura DR

A sua invenção preferida é o lápis, pensou seriamente em ingressar na universidade para jogar râguebi e acabou por ficar conhecido como “o arquitecto do papel” pela sua pulsão por uma arquitectura solucionadora de problemas urgentes. Influenciado tanto pelo ícone finlandês Alvar Aalto quanto pelo trabalho dos carpinteiros na sua infância, Shigeru Ban recebeu o Pritzker e a crítica mundial vê a sua distinção como um sintoma da mudança de foco na arquitectura mundial - afinal, ele é o primeiro a falar da sua desilusão com o facto de a arquitectura se fazer sobretudo para o poder e para os privilegiados.

A sua escolha pela Fundação Hyatt, que atribui o Pritzker, “é tanto inesperada quanto boa”, escreve o Financial Times, e o veterano da crítica de arquitectura do Chicago Tribune, o vencedor do Pulitzer de crítica Blair Kamin descreve os seus edifícios como “simples, mas elevadores do espírito”, abrigos e fontes de dignidade para vítimas da guerra civil, genocídio, sismos e tsunamis. “É o arquitecto com maior consciência social que alguma vez ganhou o Pritzker”, escreve Kamin, “e o primeiro a vencer baseado largamente em estruturas que são temporárias”.

Para Julie V. Iovine, especialista de arquitectura do Wall Street Journal, “seria difícil imaginar outro arquitecto que personificasse com maior perfeição a actual disposição da arquitectura, que favorece a relevância social ampla em vez de formas icónicas, ao mesmo tempo que consegue distinguir-se em desenhos que são refinadamente belos”. Iovine destaca ainda que Shigeru Ban tem “basicamente a mesma abordagem” quando trabalha com os mais importantes museus do mundo ou quando faz “abrigos de emergência, usando materiais económicos com um sentido de perícia e de efeitos generosos de luz natural”. 

O crítico do New York Times Michael Kimmerman, descreve o filho de um funcionário da Toyota e de uma designer de moda como “arquitecto da mudança social” e contextualiza – a sua distinção com o Pritzker, o mais importante prémio mundial atribuído a um arquitecto (e, em toda a sua história, a apenas duas arquitectas), representa um processo de lenta mudança na profissão. E que vem de dentro e da juventude – “os jovens arquitectos parecem mais e mais interessados no que estou a fazer”, diz Shigeru Ban, que nunca fala de sustentabilidade mas cujo trabalho, como resume o El País, se trata de fazer o máximo com o mínimo. “Toda a gente costumava querer ser um arquitecto-estrela. Já não é o caso”, disse Ban ao crítico do diário nova-iorquino na semana passada, antes de saber que iria ser o Pritzker 2014.

“Já chamaram ao prémio um concurso de beleza. Agora é um sinal de que o bom design e as boas obras podem ambos ser recompensados”, elogia Kimmerman, que não esquece aquilo que um olhar atento ao portfólio do arquitecto japonês evidencia: Shigeru Ban tanto faz as grandes obras que o poderiam conotar com o estrelato, os grandes museus e as sedes ou pavilhões para marcas multinacionais, quanto os projectos de emergência nas zonas mais necessitadas do globo. No fundo, é um pioneiro, responsável por prolongar e alargar “a definição da arquitectura temporária e a utilização de materiais reciclados, pré-feitos e amigos do ambiente antes de muitos outros estarem a pensar” nisso, diz o crítico do Times.

Do outro lado dos Estados Unidos, o crítico do Los Angeles Times Christopher Hawthorne acrescenta que o japonês “não só está a criar habitação” em áreas necessitadas, mas também “a criar igrejas ou centros comunitários onde as pessoas se podem juntar – e juntar-se num local que está bem desenhado, que lhes dá uma certa sensação de dignidade entre todo o caos que as rodeia”.

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