“É muito triste” que Portugal esteja só com um jornal na Bienal de Arquitectura de Veneza

Rem Koolhaas comentou em tom crítico ao PÚBLICO o formato da participação escolhida por Portugal.

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FERNANDO VELUDO

Para Rem Koolhaas, o director da 14.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, “é muito triste” que Portugal se faça representar em Itália apenas com um jornal, em vez de uma exposição ou um pavilhão.

 Ao PÚBLICO, o arquitecto disse não ter dúvidas de que o projecto português será “um grande jornal”, lamentando no entanto que não exista “uma presença real”.

Apesar de desconhecer os contornos da participação portuguesa na Bienal de Veneza, que foi apresentada na quinta-feira, o arquitecto holandês Rem Koolhaas comentou com tom crítico o formato de participação escolhida por Portugal.  “Não sei que jornal está planeado, acredito que será um grande jornal mas acho que é muito triste porque Portugal tem muito a dizer sobre a arquitectura e sobre a situação actual da União Europeia”, disse o arquitecto-estrela quando questionado pelo PÚBLICO sobre o que achava do modelo escolhido (um jornal) pela participação portuguesa para a bienal, à margem da apresentação à imprensa da sede da marca de roupa G-Star Raw, em Amesterdão, o mais recente trabalho do atelier de Koolhaas, OMA – Office for Metropolitan Architecture.

Foi anunciado na quinta-feira que Portugal se fará representar na mais importante mostra de arquitectura do mundo com uma edição em papel, Homeland: News From Portugal, a ser distribuída gratuitamente aos milhares de visitantes. Com uma tiragem de 165 mil exemplares e produzido por uma equipa transdisciplinar, o jornal terá três diferentes edições em inglês ao longo dos seis meses da bienal, que inaugura a 7 de Junho e se prolonga até 23 de Novembro.

Nesta conferência de imprensa de apresentação do projecto, comissariado por Pedro Campos Costa em parceria com a Trienal de Arquitectura de Lisboa, representada pelo arquitecto José Mateus, o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, reconheceu que o modelo de representação nacional em Veneza surge como resposta “às circunstâncias [económicas] em que vivemos e às limitações [financeiras por elas impostas]”. Depois de um orçamento de 300 mil euros em 2012, este ano a verba disponibilizada ficou pela metade.

No entanto, para Rem Koolhaas, 150 mil euros é “o suficiente para se poder fazer alguma coisa”. “É preciso ser criativo e comunicativo”, afirmou o arquitecto, confessando estar “muito curioso com a situação em Portugal”. “É pena, acho que deviam definitivamente fazer uma afirmação [sobre a crise] e representá-la" mesmo que seja por 150 mil euros.

Koolhaas propõe-se na edição deste ano da bienal, intitulada Fundamentos, a repensar a arquitectura, ao mesmo tempo que, como já explicou, quer dar a conhecer "a sobrevivência de características únicas nacionais e de mentalidades que continuam a existir". É por isso que para o arquitecto seria importante que Portugal estivesse mais presente. “Muitos países europeus estão muito curiosos por saber o que a crise económica fez a Portugal e ao trabalho da arquitectura”, acrescentou. E a crise não pode ser uma desculpa para não se fazer mais: “Se pensarem realmente sobre isso podem fazer qualquer coisa até com a probreza”.

Para Rem Koolhaas, autor, em Portugal, da Casa da Música, no Porto, estar representado com um jornal não tem o mesmo efeito de uma exposição, como aconteceu em 2012 com Lisbon Ground, que mostrava obras de Álvaro Siza, Eduardo Souto de Moura, Gonçalo Byrne, Carrilho da Graça e dos irmãos Aires Mateus.

Nota: Na sequência deste artigo, o atelier de Rem Koolhaas enviou um pedido de esclarecimento, dizendo que as dúvidas levantadas pelo arquitecto holandês sobre a representação portuguesa não reflectem a sua opinião: “Mesmo que a presença física seja limitada (haverá uma presença portuguesa na Artiglierie), Rem Koolhaas antecipa que a proposta [o jornal] pode rivalizar com a alta qualidade das anteriores contribuições portuguesas”, escreve Stephan Petermann, do OMA, acrescentando que o director da Bienal “continua muito curioso e envolvido com os desenvolvimentos actuais da arquitectura em Portugal”.
As novas declarações veiculadas pelo atelier não contradizem as que foram recolhidas pelo PÚBLICO em Amesterdão, que se encontram registadas numa gravação.

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