Kate Bush de regresso aos concertos 35 anos depois

Kate Bush não faz uma digressão desde 1979 e essa foi a única da sua carreira.

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Kate Bush numa foto promocional de 50 Words For Snow, o seu último álbum, editado em 2011 DR

O anúncio chegou de forma muito simples, directo ao assunto. “Estou encantada por anunciar que iremos fazer alguns espectáculos ao vivo em Agosto e Setembro. Espero que possam juntar-se a nós e aguardo com ansiedade ver-vos lá”. Lido assim, parece nada mais que o anúncio corriqueiro de mais uma digressão de um músico a elas habituado. Acontece que quem o escreveu no seu site oficial foi Kate Bush. E que Kate Bush não faz uma digressão desde 1979 (sendo que essa foi a única da sua carreira). Não, este não é um anúncio corriqueiro.

Na verdade, não será exactamente uma digressão. De facto, a cantora de Wuthering heigths não sairá da capital inglesa. Entre 26 de Agosto e 19 de Setembro, dará 15 concertos no Eventim Apollo, numa série de actuações intitulada Before the Dawn/Antes do Amanhecer. O anúncio foi uma surpresa.

Apesar do carácter bissexto das suas edições (depois de editar The Red Shoes em 1993, lançou Aerial doze anos depois, seguido da reciclagem de material antigo em Director’s Cut e de 50 Words for Snow em 2011), Kate Bush manteve-se activa e presente, à sua maneira resguardada, no cenário pop. Vê-la em palco, porém, tem sido um acontecimento raríssimo. Passaram já doze anos desde a última vez que o fez, ao surgir num concerto de David Gilmour para acompanhar o guitarrista dos Pink Floyd na interpretação de Comfortably numb.

Em 1979, quando era a mulher mais fotografada do Reino Unido, reflexo de uma imagem intrigante e sinal da imensa celebridade que sucedeu à edição no ano anterior de The Kick Inside e Lionheart, os dois primeiros álbuns, Kate Bush, então com 20 anos, foi protagonista de uma digressão europeia que impressionou pela ambição e dimensão cenográfica. Pretendia com ela provar que detinha uma verdadeira voz criativa, que não era um produto pop inventado em estúdio por um qualquer produtor. Os relatos dos espectáculos dizem-nos que o conseguiu.

Pelo palco passavam treze pessoas, incluindo o irmão de Kate Bush a declamar poesia, um ilusionista ou duas bailarinas. A cantora assumia personagens diferentes em cada canção e nunca saía de personagem para se dirigir ao público nos termos habituais num concerto. Ao longo de 24 canções, mudava de guarda-roupa 17 vezes. O espectáculo foi coreografado por Bush em colaboração com Anthony van Laast, responsável décadas depois pela coreografia do filme Mamma Mia!

Dia 14 de Maio de 1979, no Odeon, em Londres, Kate Bush deu o último concerto da digressão. Os seus agentes esperavam levá-la em seguida aos Estados Unidos, esperavam que fosse a primeira de muitas digressões. Tal nunca se concretizou. Ao longo dos anos, várias foram as justificações procuradas, do medo de viajar de avião à memória traumática deixada pela morte no início da digressão do técnico de luzes Bill Duffield, depois de este cair de uma altura de seis metros enquanto fazia uma vistoria à estrutura de palco. Recorda o Guardian que, a tal respeito, Kate Bush terá afirmado simplesmente: “Diziam que não conseguia dar concertos, e provei que estavam errados”. 

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