Tinha penas e era grande, o que era? Um dinossauro

Era um ladrão de ovos do Cretácico, pesava 200 a 300 quilos e atingia três metros de altura em pé.

Ilustração científica do <i>Anzu wyliei</i>
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Ilustração científica do Anzu wyliei Cortesia Bob Walters
Ilustração científica que mostra o aspecto do <i>Anzu wyliei</i>
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Ilustração científica que mostra o aspecto do Anzu wyliei Mark Klingler/Museu Carnegie
Reconstrução do crânio do  <i>Anzu wyliei</i>
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Reconstituição do crânio do Anzu wyliei Donald Hurlbert/Instituição Smithsonian

Deram-lhe um apelido: galinha do inferno. Não por ser propriamente um galináceo, pelo contrário, estava-se ainda longe do aparecimento destas aves, mas um dinossauro de tamanho considerável cujo corpo deveria estar coberto de penas e que devia ser o terror lá para os lados dos seus domínios – neste caso, planícies da América do Norte. Tinha o bico como os das aves, uma crista em osso, uma grande cauda e as garras nas patas dianteiras esclareciam logo todas as dúvidas quanto às suas preferências alimentares. Eram diversificadas, pelo que, além de plantas, raptava ovos de outros bichos e caçava animais pequenos.

A América do Norte há 66 milhões de anos – no final do período Cretácico, mesmo no fim da era dos dinossauros, ao que muito indica extintos devido à colisão com a Terra de um asteróide – era a casa deste novo dinossauro descrito cientificamente esta quarta-feira na revista PLOS ONE.

A partir dos fósseis de três exemplares encontrados no Dakota do Norte e do Sul, nos Estados Unidos, os cientistas obtiveram os ossos do que, todos juntos, seria um esqueleto quase completo do dinossauro. Pertencendo a um género e a uma espécie novos para a ciência, chamaram-lhe Anzu wyliei. O nome do género (Anzu) evoca um demónio com penas na mitologia da antiga Mesopotâmia, enquanto o da espécie (wyliei) é uma homenagem a Wylie J. Tuttle, neto de um dos mecenas do Museu Carnegie de História Natural, em Pittsburgh.

A descrição do novo dinossauro fica mais completa se dissermos que até à altura da anca tinha 1,5 metros, por isso em pé era muito maior, e pesava 200 a 300 quilos. As escaramuças com outros animais deveriam ser frequentes, como se depreende de mazelas nos ossos de dois dos três exemplares encontrados (fracturas já saradas numa costela e artrite num dedo resultante de um bocado de osso arrancado).

“Era um raptor gigante, mas com a cabeça como a de uma galinha e, presumivelmente, penas”, diz um dos elementos da equipa, Emma Schachner, da Universidade do Utah (EUA). “Em pé, o animal tinha três metros de altura, por isso seria muito assustador encontrá-lo”, acrescenta a investigadora, citada num comunicado. “A brincar, chamávamos-lhe a ‘galinha do inferno’, o que acho que é bastante apropriado”, refere por sua vez o coordenador da equipa, Matthew Lamanna, do Museu Carnegie.

Na realidade, chegaram-nos apenas os ossos do Anzu wyliei, mas como têm sido encontradas penas fossilizadas de parentes muito próximos evolutivamente, os cientistas especulam que também ele deveria ter este revestimento no corpo.

Mais estranho do que se imaginava
Era um ovirraptorossauro, que significa "lagarto ladrão de ovos", um grupo de dinossauros bípedes com penas muito próximos das aves em termos evolutivos e que frequentemente tinham cristas na cabeça. E, entre os ovirraptorossauros, os cientistas incluíram-no num grupo mal conhecido e que tem sido procurado há quase um século: os Caenagnathidae.

“Durante muitos anos, conheciam-se apenas bocados do esqueleto dos Caenagnathidae e a sua aparência permanecia um grande mistério”, sublinha Hans-Dieter Sues, do Museu Nacional de História Natural da Instituição Smithsonian, na cidade de Washington. “O Anzu é o Caenagnathidae mais completo alguma vez descoberto. Ao fim de quase um século de busca, os paleontólogos têm finalmente um fóssil que mostra como era o aspecto destas criaturas praticamente desde a cabeça até aos pés. E, em quase tudo, eram mais estranhas do que imaginávamos”, acrescenta Matthew Lamanna.

Agora já se pode inferir como era o aspecto deste dinossauro que roubaria os ovos dos outros, fundamentado nos seus ossos fossilizados, ainda que os ilustradores científicos continuem a dar largas à sua imaginação – desde a forma como representam as penas da cauda e das patas dianteiras até à cor das próprias penas. Uma especulação, sem dúvida, mas alicerçada em investigação científica e a que os avanços da ciência vão dando novos retoques.

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