CDU volta a pedir à Câmara do Porto que atribua nome de Saramago a rua da cidade

A sugestão já tinha sido chumbada em 2010 pela coligação PSD.

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A CDU anunciou, esta quarta-feira, que vai propor à Câmara do Porto, na reunião da próxima terça-feira, atribuir o nome do escritor José Saramago a uma rua da cidade, retomando uma ideia chumbada pela anterior maioria camarária, em 2010.

A proposta do vereador da CDU, a que a Lusa teve acesso, pede ao executivo que recomende à Comissão de Toponímia (CT) dar o nome do Prémio Nobel da Literatura de 1998 a uma artéria do concelho, "ciente do importante contributo que José Saramago deu para a divulgação e o prestígio de Portugal e da Língua Portuguesa". Em 2010, a mesma sugestão da CDU foi reprovada pela coligação PSD.

CDS que geria a autarquia, sob a liderança do presidente Rui Rio, com o argumento de que a CT apenas aceita "nomes de cidadãos com ligação directa ao Porto" mas também com críticas à "postura de contorno intolerante" de Saramago.

Em comunicado, a CDU explica ter decidido reapresentar a proposta ao executivo, agora liderado pelo independente Rui Moreira numa coligação pós-eleitoral com o PS, tendo em conta "a possibilidade de correcção desta injustiça para com José Saramago, a Cultura e a Língua Portuguesa", e o facto de em 2014 se assinalarem quatro anos da morte do escritor.

A CDU do Porto classifica como uma "profunda demonstração de intolerância" a rejeição da maioria PSD/CDS, da qual fazia parte o actual vereador da Protecção Civil, Manuel Sampaio Pimentel. "O sectarismo da coligação foi tamanho e mesmo apresentação de condolências à família mereceu a abstenção do presidente da Câmara e de cinco dos seus vereadores e o voto contra do vereador do CDS Sampaio Pimentel", descreve a CDU.

Apesar da reprovação do executivo, a 13 de Julho de 2010, a proposta de atribuir o nome de José Saramago a uma rua da cidade foi aprovada pela Assembleia Municipal com 42 votos a favor e oito abstenções.

A situação gerou ampla polémica e levou o escritor Mário Cláudio a entregar na Câmara, no dia 27, um abaixo-assinado subscrito por 191 pessoas a defender a atribuição do nome do escritor a uma rua do Porto.

No dia 28 de Julho, a autarquia esclareceu em comunicado que a "razão principal" do chumbo foi o facto de, desde 2002, a CT "apenas aceitar propor nomes de cidadãos com ligação directa ao Porto para ruas da cidade".

O mesmo comunicado divulgava uma carta enviada por Rui Rio ao P.E.N Clube Português, onde o autarca criticava a "postura de contorno intolerante" de Saramago, quando este promoveu "saneamentos políticos de jornalistas" enquanto "director adjunto do DN".

"Se não existisse a regra aqui referida [o critério da Comissão de Toponímia], a minha consciência teria muita dificuldade em votar favoravelmente [...] Porque o Porto [...] não é compaginável com posturas de contorno intolerante ou, por exemplo, com os saneamentos políticos de jornalistas que o ilustres escritor promoveu no «Verão Quente de 75», enquanto director-adjunto do DN", escreveu o autarca.

A autarquia explicava ainda ter decidido quebrar o silêncio sobre o assunto devido ao "aproveitamento político imoral que alguns resolveram fazer da memória de José Saramago".

Para "ilustrar a coerência" do executivo e da CT, a Câmara recordava também que "figuras nacionais como Amália Rodrigues, Raul Solnado ou mesmo os Marechais Spínola e Costa Gomes também não têm uma rua no Porto". 

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