“Descalabro dos estaleiros de Viana começou em 2008”, acusam sindicalistas

Acordo social com Ministério da Defesa foi considerado "racional e humano".

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Destino dos Estaleiros de Viana continua sem definição clara PAULO RICCA/Arquivo

“O descalabro dos estaleiros de Viana começou em 2008/2009”, disse esta terça-feira, perante a comissão parlamentar de inquérito aos Estaleiros Nacionais de Viana do Castelo (ENVC), o sindicalista Branco Viana.

O dirigente da União de Sindicatos de Viana do Castelo (USVC), membro da direcção nacional da CGTP e trabalhador dos estaleiros situa naquela data o início dos problemas. “A partir de então há a estratégia de que não interessa viabilizar a empresa”, acusou.

O sindicalista foi particularmente duro com a anterior administração liderada por Veiga Anjos, ainda no tempo do Governo de José Sócrates. “Anunciou no melhor hotel da cidade o despedimento de 420 trabalhadores, não houve nenhuma intenção de discutir qualquer coisa”, criticou, referindo-se ao projecto de refundação de 2011. Em relação à actual situação, a subconcessão à West Sea, empresa do grupo Martifer, o dirigente sindical foi pragmático: “Não está nada garantido agora, como não estava na altura”, disse referindo-se à situação de há três anos.

“Esta situação é um mal menor, não há garantias. Mas há o compromisso de que a construção naval em Viana do Castelo vai continuar num cenário diferente”, adiantou.  “Nos últimos anos foi um descalabro total, estou convencido que houve um desinteresse total para que a empresa não tivesse viabilidade”, insistiu. Como prova deste facto, considerou que o Governo não defendeu os interesses dos ENVC junto da Comissão Europeia, depois de Bruxelas ter acusado o Estado português de ajudas ilegais, no montante de 180 milhões de euros. “Não se agarrou o touro pelos cornos”, afirmou Branco Viana.

“Se houvesse vontade política tinham-se encontrado outras vias, mas desde o Governo do PS ao do PSD/CDS não houve a intenção de viabilizar os estaleiros”, continuou.

Sobre o acordo social, apresentado pelo executivo e pelo ministro da tutela, José Pedro Aguiar Branco, como um sucesso, o sindicalista da CGTP classificou-o como “racional e humano”, contrapondo-o à situação vivida com o anterior executivo. “Não estamos de acordo com a solução, mas tínhamos de encontrar a melhor saída entre o encerramento e as rescisões amigáveis, voluntárias”, ponderou. Uma opção tomada por 598 dos 609 trabalhadores dos ENVC: “Que iriamos fazer? Entre ter um pássaro na mão e dois a voar?”

Recordou que no diálogo com o Ministério da Defesa foram consideradas as majorações propostas pela parte sindical. “Foi para além das nossas expectativas”, admitiu. No entanto, considerou que a solução encontrada pode ser classificada como “despedimento colectivo encapotado”.

Quanto ao futuro, o dirigente sindical recorda o teor do encontro que a USVC manteve com Carlos Martins, presidente da Martifer. “Não há nenhum contrato assinado, há a palavra de homens”, justificando: “Disse que não ia olhar para as idades dos que iam ser contratados e, destes dez, sete têm mais de 50 anos.”
 

   

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