Darren Aronofsky sobre Noé: “A arte faz a sua própria interpretação”

Filme está a ser alvo de fortes críticas e boicotes antes mesmo da sua estreia. Agora, o realizador defende o seu trabalho.

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Noé ainda não se estreou e o filme de Darren Aronofsky não só está a ser alvo de críticas vindas do meio religioso, como também se viu envolto num enredo em torno do encontro que o realizador e o protagonista, Russell Crowe, teriam ou não agendado com o Papa Francisco para esta semana. Durante a digressão promocional do filme, Aronofsky é cada vez mais obrigado a defender o seu filme, tendo frisado segunda-feira em Madrid que “tudo o que foi filmado está ligado com o Génesis. A arte faz a sua própria interpretação: aconteceu nos tectos do Vaticano, acontece no meu filme e acontecerá enquanto existir o ser humano”.

Noé, que foi banido nos Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein e Kuwait por contradizer o tabu do Islão de representar um profeta e que foi alvo de uma fatwa no Egipto, estreia-se nos EUA no dia 28 e em Portugal a 10 de Abril. Os materiais de promoção do filme estavam já desde o mês passado assinalados com a informação de que se trata de um trabalho “inspirado” na Bíblia, tentando evitar uma das mais acesas controvérsias em torno de um filme antes do seu lançamento – o que foi já resultado de pressões de um grupo cristão conservador dos EUA sobre a Paramount.

Aronofsky explicou segunda-feira ao diário espanhol El País que “o coração do filme é o entretenimento” e que a sua intenção é apresentar “um drama perturbador, com grandes actuações, efeitos visuais e música. Claro que espero que à saída [das sessões] as pessoas saiam com mais perguntas, que conversem sobre o que viram”.

O realizador de Pi e O Cisne Negro admitiu ao El País que estava à espera, “desde o início da produção”, desta controvérsia, embora considere “estranho que se fale de filmes sem os ver. Quando chegar aos cinemas, o público vê-la-á e a controvérsia cessará”, acredita. “É um trabalho minucioso de investigação que preencheu as lacunas que deixa a Bíblia.”

Sobre a base do filme, a história de Noé e da arca que constrói, contada no livro do Génesis na Bíblia, Darren Aronofsky diz ao diário espanhol que “as pessoas lembram-se de um conto de fadas, de uma história para crianças”. E o livro do Génesis “não é assim”, continua, depois de ter descrito há uma semana ao Los Angeles Times o que considera ser, de facto, a história do primeiro livro da Bíblia – “é o fim do mundo”. Em Espanha, defendeu que o facto de retratar um evento apocalíptico o remeteu para um género cinematográfico – o filme de catástrofe – mas que estava ciente disso e da necessidade de perverter os seus cânones.  

Protagonizado por Russell Crowe, Jennifer Connelly e Anthony Hopkins, o filme segue de perto as escrituras e os relatos dos quatro capítulos do Génesis no que toca à própria configuração da arca, escreve o Los Angeles Times, que já viu o filme. 

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