Martifer já recrutou pessoal dos Estaleiros de Viana do Castelo

Seis ex-trabalhadores dos Estaleiros foram contratados pela empresa que ganhou a subconcessão para a construção naval em Viana do Castelo.

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Cessam terça-feira os contratos de trabalho dos que rescindiram Paulo Pimenta

Os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) viram, esta semana, uma página na sua história de 70 anos, prevendo-se que se inicie agora o processo de recrutamento de pessoal para o novo projecto e a West Sea Estaleiros Navais.

Segundo o PÚBLICO apurou, a West Sea, que será presidida por Carlos Martins, administrador do grupo privado português, já contratou seis profissionais que rescindiram com os estaleiros navais de Viana e tudo aponta para que sejam eles agora a coordenar o recrutamento de pessoal para o novo projecto.

Na terça-feira, cessam os contratos de trabalho dos 596 trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que, até ao passado dia 21 de Fevereiro, rescindiram o seu vínculo laboral com a empresa no âmbito do plano social lançado pela administração da empresa pública. Dos 607 trabalhadores dos estaleiros navais de Viana, apenas 11 recusaram assinar o documento. Entre eles estão dois dos sete elementos efectivos da Comissão de Trabalhadores (CT). O despedimento será o passo seguinte para estes trabalhadores, que se sujeitarão às condições previstas na lei, como tinha avisado a administração dos ENVC.

A administração da Martifer pretende criar em Viana do Castelo cerca de 400 postos de trabalho, os quais serão recrutados “prioritariamente” entre os ex-trabalhadores da empresa pública.

De acordo com uma fonte ligada ao processo, a partir de meados deste mês deverá ser conhecido o prazo para o arranque da laboração da nova empresa. Antes, a prioridade será reorganizar e reparar as infra-estruturas existentes nos estaleiros. Muitas encontram-se degradadas por não serem utilizadas há mais de dois anos e meio. Mas está também previsto o investimento em equipamentos novos. Um trabalho prioritário para dar resposta à futura carteira de encomendas do novo subconcessionário, que, de acordo com a mesma fonte, incluirá uma facturação de cerca de 10 milhões de euros em reparação naval, até final deste ano.

Além da West Sea, a Galiza, em Espanha, é outra possibilidade que se poderá colocar aos trabalhadores dos ENVC. Apenas 100 quilómetros separam Viana do Castelo de Vigo onde estão situados seis estaleiros, todos privados. Mais acima, em Ferrol, estão instalados os estaleiros de Navantia, uma empresa com participação pública. A perda de know-how dos ENVC para a indústria naval galega foi sempre um dos receios do presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Mário Costa, um dos mais fortes opositores da subconcessão da empresa pública que, em Julho, cumpriria 70 anos de actividade.

José Mário Costa, que continua a responsabilizar o ministro da Defesa Nacional pelo que aconteceu aos estaleiros navais de Viana, espera que a comissão parlamentar de inquérito possa fazer uma “avaliação criteriosa de todos os procedimentos para ver se este processo foi tratado com transparência e se os interesses do Estado foram acautelados”.

“É preciso fazer uma avaliação concreta de todos os procedimentos ao longo destes dois últimos dois anos e meio para se perceber se a defesa do interesse público foi salvaguardada, porque estamos a falar de uma empresa do sector empresarial do Estado que tinha um conjunto de activos, que tinha encomendas e o que aconteceu foi um trespasse de uma actividade industrial em que o Estado assumiu toda a dívida”, declarou ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Viana do Castelo.

O autarca socialista teme que a mão-de-obra mais qualificada acabe por sair do país e vá trabalhar para empresas espanholas, designadamente para os estaleiros navais de Vigo.

O PÚBLICO falou com Ramon Sarmiento, secretário-geral da Federação das Industrias das Comissões Obreras da Comarca de Vigo, que afasta, para já, esse cenário. “Em Espanha, os estaleiros continuam numa situação muito crítica e não há défice de mão-de-obra qualificada no país na área da construção naval”, disse o sindicalista, para quem se abre uma nova fase nos estaleiros navais de Vigo, comprados por uma empresa mexicana que pretende relançar a actividade da indústria naval em Espanha.

A petrolífera Pemex, através da sua filial PMI, comprou 51% do capital dos estaleiros Hijos J. Barreras de Vigo, que pertenciam à empresa do mesmo nome, e que é um dos sócios da companhia mexicana na construção de dois cruzeiros.

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