Reacções ao prefácio de Cavaco oscilam entre a falta de surpresa e o engano

Reacções dos partidos ao prefácio do Roteiros VIII, o documento que reúne as intervenções do Presidente da República ao longo do oitavo ano do seu mandato.

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Depois da saída da troika, em Maio, Portugal tem à sua espera mais 20 anos de disciplina orçamental e supervisão externa. O diagnóstico é do Presidente da República, feito no prefácio do livro Roteiros VIII.

Se o PSD encarou “sem surpresa” as palavras de Cavaco Silva, António José Seguro disse que o Presidente dispõe de informação que o PS não tem e pediu “maior prudência” face a declarações dissonantes – no triângulo Governo, Durão Barroso e Cavaco – entre uma “saída limpa” e um programa cautelar. O líder do PS concluiu que se o Governo precisar de “outro tipo de apoio” para regressar aos mercados, falhou mais um objectivo.

Já o BE considerou que o Presidente da República revela o que o Governo "tem andado a esconder", isto é, que depois do fim da troika virá "outra troika" para mais 20 anos de austeridade. E Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista, diz que Cavaco está enganado, o fim da austeridade depende da deterimnação do povo português.

"Depois desta troika sair vem outra troika, desta vez com 20 anos de austeridade, novamente e sempre em nome da dívida e dos credores", considerou o coordenador do Bloco, João Semedo.

O bloquista reagia às palavras do chefe de Estado escritas no prefácio do Roteiros VIII, onde Aníbal Cavaco Silva considera "uma ilusão" pensar que as exigências de rigor orçamental vão desaparecer após a conclusão do programa de ajustamento e avisa que pelo menos até 2035 Portugal continuará sujeito a supervisão.

João Semedo criticou também a "atitude equívoca" mas "habitual e trivial" de Cavaco Silva, que entra em "contradição" ao "reconhecer os falhanços da política da troika e da austeridade mas ao mesmo tempo insistir na sua continuação".

"É uma contradição antiga de Cavaco Silva. Não se pode alertar para a evolução negativa a que conduziram as políticas de austeridade e, ao mesmo tempo, insistir nessas políticas", declarou o coordenador e deputado do Bloco.

No texto, que tem como tema o pós-troika, o Presidente da República explica em detalhe as novas regras europeias de disciplina orçamental, "que irão condicionar de forma profunda a vida nacional nos próximos anos", focando em particular a "condicionalidade específica" a que estão sujeitos os países que recorreram a assistência financeira, como é o caso de Portugal, que obteve um empréstimo de 78 mil milhões de euros.

Jerónimo de Sousa é da opinião de que Cavaco Silva está enganado e que o fim da austeridade em Portugal depende da determinação do seu povo. "Cavaco Silva foi igual a si próprio mas, tal como em outras ocasiões, vai enganar-se", disse o líder comunista, acrescentando que "Cavaco data a austeridade e a dependência, esquecendo-se que quem pode determinar a data e o fim desta política é o povo português".

"Cavaco anunciou, vejam lá, que até 2035 Portugal não se livra da canga, do capital financeiro e dos mandante da União Europeia, tomando os especuladores e os mega bancos como Deus omnipresente e omnipotente", criticou Jerónimo de Sousa.

"Sobre a saída do pacto de agressão, a Cavaco Silva não interessa a forma, interessa é não fazer muito barulho, até porque há eleições dia 25 de Maio", disse o dirigente comunista, aludindo à posição de Cavaco Silva, que defende que a decisão sobre um eventual programa cautelar deve ser tomada "no momento adequado", "evitando alaridos precipitados", e tendo em conta a evolução dos mercados, da situação internacional e o sentimento dos parceiros europeus.

"Cavaco Silva afirma-se assim como uma caixa de ressonância das políticas de direita, com um mérito: dá um sopapo naquela conversa fiada de Paulo Portas que até pôs um relógio a trabalhar a dizer quando era o fim da troika, a datar o fim da protectorado e a libertação do país em Maio", disse.

"Sem surpresa"

Do lado do PSD, Marco António Costa, vice-presidente dos sociais-democratas também já reagiu para encarar “sem surpresa” a posição do Presidente da República sobre a supervisão das instituições europeias a Portugal até 2035, admitindo o estreitamento de laços para uma Europa mais coesa.

“A ligação estratégica entre aquilo que acontece em cada Estado-membro e aquilo que é a realidade política europeia mais global, seguramente que sofrerá sempre um estreitamento de laços em nome de um projecto europeu mais coeso”, afirmou Marco António Costa considerando não haver “nenhuma surpresa” na posição defendida pelo Presidente.

Para o vice-presidente do PSD essa supervisão decorre “da circunstância de termos subscrito o tratado fiscal”, o que faz com que haja “uma permanente cumplicidade entre o trabalho que fazemos na governação do país e os objetivos que assumimos perante os nossos parceiros europeus”.

Uma cumplicidade que Marco António Costa sublinha já existir entre o Governo PSD-CDS e a as instituições europeias, que “nos últimos dois anos e meio têm contribuído decisivamente para um novo conceito Europa, mais solidária, mais responsável, mas acima de tudo mais interventiva”, concluiu.

 

 

 


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