Na Venezuela, protesto dos tachos vazios contra o governo

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Os tachos, símbolo da escassez, foram levados à manifestação JUAN BARRETO/AFP
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Entre o estrondo provocado por pancadas em tachos – uma forma de protesto popular em alguns países de língua espanhola – e o cordão policial em volta, cerca de cinco mil venezuelanos, na sua maioria mulheres, manifestaram-se neste sábado no centro de Caracas em protesto contra o Governo de Nicolás Maduro e a escassez de alimentos e bens de primeira necessidade num país que tem as maiores reservas de petróleo do mundo.

“Não há, não há, não há”, podia ler-se num dos cartazes agitados pela multidão, segundo a AFP, no “Protesto dos tachos vazios”. As manifestações contra o Governo têm sido diárias na Venezuela desde há um mês e as tensões já resultaram em 21 mortos, pelo menos 300 feridos e cerca de mil detenções.

O Governo mobilizou centenas de agentes das forças de segurança para impedir a concentração dos manifestantes junto ao Ministério da Alimentação, convocada pela Mesa de Unidad Democrática, uma coligação de partidos que se opõem ao Presidente Nicolás Maduro. Segundo a AFP, houve por vezes tensão entre os manifestantes e as forças de segurança no local, mas, depois de uma negociação, polícia e militares aceitaram afastar-se uns metros para abrir mais espaço à multidão.

“Toda esta mobilização militar demonstra o grande medo que Nicolás [Maduro] e o seu Governo têm dos protestos contra os problemas sérios que afectam os venezuelanos”, disse a principal figura da oposição, Henrique Capriles, um governador estadual que foi derrotado por Nicolás Maduro, delfim político de Hugo Chávez, com uma margem residual de 1,5 pontos percentuais de votos nas eleições presidenciais de Abril de 2013.

Outras manifestações tiveram lugar noutras cidades do país, mas nenhum canal de televisão transmitiu qualquer imagem das mesmas.

A inflação atingiu os 56% na Venezuela, um país onde encher o depósito de combustível do carro custa apenas alguns cêntimos de euros. Mas encontrar farinha, leite, arroz, açúcar, papel higiénico ou componentes de automóvel é um desafio. Os venezuelanos passam horas em filas no supermercado à espera de abastecimentos, muitas vezes antes de amanhecer, sem saber o que conseguirão comprar.

“Não há nada para comprar. Só se pode comprar o que o Governo deixa entrar no país porque tudo é importado. Carne de vaca não há. Nem frango”, disse à AP uma das manifestantes em Caracas, Zoraida Carrillo, 50 anos.

Outro motivo por detrás das tensões das últimas semanas é a insegurança – a Venezuela é o quinto país do mundo com o índice de criminalidade mais alto. A onda de protestos que tem abalado o país foi desencadeada por estudantes no início de Fevereiro, para contestar o nível de insegurança que se faz sentir em muitos centros urbanos, depois de uma estudante ter sido alegadamente violada.

“Vamos transformar este protesto no maior movimento social da história deste país”, disse este sábado Henrique Capriles, dirigindo-se aos manifestantes na capital venezuelana, muitos deles munidos de tachos vazios simbolizando a escassez de alimentos, segundo a BBC.

Por sua vez, o Presidente do Governo socialista, Nicolás Maduro, celebrou como uma vitória diplomática uma declaração de apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington, que se refere aos seus esforços para trazer uma resolução pacífica à violência do último mês. Estados Unidos, Canadá e Panamá foram os únicos a opor-se à declaração, votada favoravelmente por 29 países.

Numa entrevista por telefone com a televisão pública venezuelana na sexta-feira à noite, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Elias Jaua, disse que a declaração representa uma vitória para a América Latina e para as Caraíbas. Uma porta-voz do Governo, Delcy Rodriguez, escreveu no Twitter: “A minoria intrometediça contra a Venezuela na OEA, Panamá, Canadá e os EUA, é derrotada numa decisão histórica que respeita a nossa soberania.”

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