Os Trigo Limpo "embebedaram-se" com romance de Valter Hugo Mãe

O romance A Máquina de Fazer Espanhóis foi adaptado ao teatro pela companhia Trigo Limpo Teatro – ACERT. A peça O Fascismo dos Bons Homens pode ser vista esta sexta-feira e sábado à noite no Teatro Cinearte – A Barraca, em Lisboa. Depois irá para a Guarda e para Vila do Conde.

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Sr. António Silva, no centro, a personagem principal da peça O Fascismo dos Bons Homens dr

De Tondela, passou por Serpa e chegou finalmente esta semana a Lisboa. A peça O Fascismo dos Bons Homens foi trazida à capital pela mão da companhia Trigo Limpo Teatro – ACERT acompanhada pelo músico Filipe Melo, responsável pela direcção musical e que, ao lado do palco, toca o que compôs ao vivo.

Pompeu José foi, além de actor e encenador, o responsável pela adaptação do livro A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe (ed. Alfaguara), a obra que deu origem a esta peça. A adaptação foi feita pela companhia de teatro, o escritor Valter Hugo Mãe não participou na adaptação, só assistiu à peça quando esta estreou. “Eles foram muito porreiros porque não me chatearam nada”, contou o autor num encontro com os actores e o encenador, que decorreu esta quarta-feira na Fundação José Saramago antes da estreia da peça em Lisboa, no Teatro Cinearte – A Barraca.

A Trigo Limpo costuma adaptar obras de outros autores e transformá-las em peças de teatro. Gostam de “inventar um novo sítio”, diz ao PÚBLICO o encenador Pompeu José. A companhia já encenou histórias de José Eduardo Agualusa, Mia Couto e de outros escritores. Desta vez, a obra escolhida foi um romance de Valter Hugo Mãe, “porque ele faz histórias bonitas”, explica o encenador no final do ensaio. E acrescenta: “Embebedámo-nos com o que ele escreveu”.

A peça O Fascismo dos Bons Homens, baseada no romance A Máquina de Fazer Espanhóis, tem como personagem central o Sr. António Silva, um homem de 84 anos que narra a história e de quem se gosta e não se gosta. A história passa-se num lar de idosos para onde o Sr. António Silva entrou, depois da morte da sua mulher.

Tanto ele como os seus companheiros de lar abordam, ao longo da peça, assuntos que nos são próximos, falam de temas que vão da saudade ao fascismo, às dores dos outros comparadas com as nossas (que são sempre piores), ao medo, aos problemas da idade e até ao amor – essa “estupidez intermitente, mas universal”, como se ouve a determinada altura na peça. Todos estes temas são tratados por vezes de forma cómica mas sem perderem o peso que têm.

Entre as personagens, destaca-se um velhinho, interpretado por Pompeu José, que tem medo que lhe tirem “a metafísica” e acaba por morrer no dia em que faz 100 anos. É o Esteves. Sim, esse mesmo, o do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos.

Apesar de as personagens principais do livro e da peça estarem já no final das suas vidas, os actores da companhia que integram o elenco são jovens, com a média de idades a rondar os 36 anos. O encenador considerou que isso poderia ser “mais rico” para os actores e espectadores, que assim poderiam ter uma espécie de antevisão da vida. Esta ideia deixou Valter Hugo Mãe (que escreveu o livro numa idade aproximada à destes actores) “muito orgulhoso”, por ser “possível esta coisa de percebermos alguém mais velho” apesar de ainda não termos a sua idade, e também porque, para o escritor, as pessoas mais novas são “a única possibilidade de criar uma atempada salvação”.

Além disso, esta peça mostra aquilo que era a “grande batalha do livro”: a “dignificação das pessoas”, diz Valter Hugo Mãe, que ficou muito contente com o que viu em palco, chegando mesmo a achar que a peça “ultrapassa o livro”.

O Fascismo dos Bons Homens está em cena no Teatro Cinearte – a Barraca esta sexta-feira e sábado, às 21h30. Depois disso, esta história de amor, porque, nas palavras do encenador, “é uma história de amor, efectivamente”, vai passar pela Guarda, no dia 30 de Abril, e Vila do Conde, no dia 25 de Outubro. Mas, ao longo do ano, passará por outros sítios do país, promete o encenador e actor Pompeu José.

 

 

 

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