Fundação Oriente vende palacete e muda-se para antigos armazéns frigoríficos do bacalhau

A Fundação Oriente quer vender a sua sede, um edifício histórico avaliado em cerca de dez milhões de euros, e vai passar para os antigos armazéns frigoríficos do Bacalhau, hoje designado Edifício Pedro Álvares Cabral, e onde, desde 2008, funciona o Museu do Oriente, o pólo mais importante da instituição.

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A actual sede fica no centro de Lisboa, junto à avenida da Liberdade Daniel Rocha
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Painéis alegóricos em baixo relevo da autoria do escultor Barata Feyo Daniel Rocha
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Com uma traça barroca, a sede dispõe de um jardim com cerca de três mil metros quadrados Daniel Rocha
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A propriedade que está à venda foi adquirida em 1989 ao Estado português Daniel Rocha
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A ausência de qualquer classificação valoriza o activo a alienar pela Fundação Daniel Rocha
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Serviços centrais da Fundação Oriente serão transferidos para a área desocupada do Museu do Oriente Daniel Rocha
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Interiores do palacete Daniel Rocha

A Fundação Oriente colocou à venda dois palacetes de traça barroca, na rua do Salitre, em Lisboa, onde há 24 anos funciona a sede, adquiridos ao Estado em 1989, avaliados agora por cerca de dez milhões de euros.

O objectivo é transferir os serviços centrais da Fundação Oriente para a área desocupada (e entaipada) do Museu do Oriente, instalado nos antigos armazéns da Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau, um símbolo da arquitectura do Estado Novo.

“Tratou-se de uma decisão [a venda] tomada há vários anos e que visa racionalizar os activos, mas também o funcionamento da Fundação [Oriente] pois não faz sentido o cérebro estar aqui [na rua do Salitre] e o resto dos serviços estarem no museu, na doca de Alcântara”, explicou ao PÚBLICO Carlos Monjardino, presidente da Fundação Oriente, formalmente instituída em 1988 pela Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), ligada a Stanley Ho, o magnata que deteve até 2001 o monopólio do jogo em Macau. A sua criação teve como contrapartida a concessão pelo Governo de exclusividade na exploração do jogo no território que esteve sob administração portuguesa até 1999.

“Se houver possibilidade, a transferência [da sede] far-se-á ainda este ano, mas é preciso que a venda dos edifícios se materialize”, reconheceu Carlos Monjardino, que confirmou estar a avaliar uma proposta de compra, ainda por oficializar. O mesmo responsável declinou revelar a origem da oferta.

A sede da Fundação Oriente vai passar assim para os antigos armazéns frigoríficos do Bacalhau, hoje designado Edifício Pedro Álvares Cabral, onde, desde 2008, funciona o Museu do Oriente. A área museológica é hoje o pólo mais importante da instituição, que adquiriu ao Estado, em 2004, o prédio na doca de Alcântara por 7,9 milhões de euros (a verba reverteu, como receita ordinária, para a Administração do Porto de Lisboa).

Com uma área bruta de cerca de 18 mil metros quadrados e de implantação de 2250 metros quadrados, o bloco dispõe de uma cave e de seis pisos à superfície, cuja construção data de 1939 destinado ao armazenamento e ao comércio de bacalhau. Da autoria do arquitecto João Simões, foi enriquecido com grandes painéis alegóricos em baixo relevo da autoria do escultor Barata Feyo.  

Já a propriedade que está à venda (a actual sede), no centro de Lisboa, junto à avenida da Liberdade, foi adquirida em 1989 ao Estado português e foi agora avaliada, apurou o PÚBLICO juntou de fonte ligada ao processo, por um valor que oscila entre os 10 e os 12 milhões de euros, de acordo com as avaliações feitas. Com uma traça barroca, dispõe de um jardim com cerca de três mil metros quadrados, que inclui, para além de um pavilhão de caça, um muro com painéis de azulejos do século XVIII do ceramista Bartolomeu Antunes.

O complexo central conta com várias salas ornamentadas com pinturas e outros detalhes de época. O Estado terá manifestado em tempos intenção de considerar os jardins como sendo de interesse público (não podendo, assim, ser intervencionados), um propósito que acabou por não ser formalizado, sublinhou Carlos Monjardino.

A ausência de qualquer classificação valoriza o activo a alienar pela Fundação – que dispõe de vários compartimentos, andares, terraços e jardins – pois confere margem de manobra aos futuros donos para introduzirem alterações, nomeadamente, mexendo nas pré-existências ou intervindo em partes relevantes (espelhos, grandes portas interiores, dos salões, de ferro/latão trabalhado, lareiras de mármore).

A sua história é longa e remonta a 1876 quando foi pedida a licença de construção por João Alberto Lopes que o manteve na sua posse durante dois anos, altura em que o vendeu a José Alves Machado por 22contos. Filho de lavradores, de Cabris, este homem de negócios passou a propriedade ao irmão, Manuel, antigo emigrante no Brasil, filiado no Partido Regenerador. Amigo do então primeiro-ministro Fontes Pereira de Melo (igualmente do Partido Regenerador) foi tornado 1º Visconde Alves Machado pelo rei D. Luis I.

A segunda transacção ocorreu em 1899, por 35 contos, e teve como comprador o conselheiro Joaquim José Cerqueira, de Viana do Castelo, sócio da família Ramalho Ortigão, e também ele emigrante no Brasil onde manteve, aliás, negócios.

Antes de passarem para a posse do Estado, em 1972, que ali instalou a Federação Nacional dos Produtores de Trigo/mais tarde EPAC, os imóveis sede da Fundação Oriente albergaram o Instituto Nacional de Estatística e, depois, o Externato Feminino Francês. Em 1989 foram adquiridos pela instituição liderada por Carlos Monjardino.  

A Fundação Oriente possui outras propriedades, uma delas emblemática, que é o Convento da Arrábida, na zona de Setúbal , onde promove seminários. Esta estrutura do século XVI foi construída para receber monges arrábidos, da ordem franciscana, e está classificada como de interesse público desde 1977.

Na zona Sul, nas Caldas de Monchique, possui um empreendimento hoteleiro termal. Em Macau, detém a Casa Garden – onde está instalada a sede local – o antigo Hospital de S. Rafael e outros prédios restauradas de acordo com a traça original. Os activos da FO estendem-se a Goa, na Índia, a São Paulo, no Brasil e a Timor.

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