Supremo da Coreia do Sul confirma sentença de cientista condenado após escândalo sobre células estaminais humanas

Hwang Woo-suk viu confirmada uma sentença de 2009 que o condenava a uma pena de prisão – e anulada outra, de 2011, que lhe permitia reintegrar o quadro da Universidade onde era professor antes do escândalo.

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O cientista Hwang Woo-suk em finais de 2005, quando o escândalo rebentou You Sung-Ho/REUTERS

A história começou com a publicação, pela revista Science, respectivamente em 2004 e 2005, de dois artigos falsificados a anunciar resultados espectaculares: a criação das primeiras linhagens de sempre de células estaminais humanas (capazes de formar todos os tecidos do organismo) a partir da mesma técnica de clonagem que produziu a famosa ovelha Dolly. O julgamento que se seguiu na Coreia do Sul, a partir de 2006, contra o líder da equipa científica autora do artigo – Hwang Woo-suk, da Universidade Nacional de Seul –, teve agora o seu desfecho final, com o Supremo sul-coreano a confirmar o veredicto que já fora emitido contra o cientista em 2009.

Hwang vê-se assim condenado a ano e meio de prisão com pena suspensa por ter desviado fundos de investigação para a produção de resultados manipulados e a compra ilegal de ovócitos humanos – e ainda por ter violado as leis de bioética daquele país, noticiaram as revistas Science e Nature.

O primeiro artigo de Hwang e colegas, em 2005, anunciava a criação de uma linhagem de células estaminais a partir de um embrião humano clonado. O segundo, publicado uns meses depois, dava conta da criação de linhagens de células estaminais “feitas à medida”, derivadas da clonagem das células de uma dezena de dadores adultos.

Porém, rapidamente recaíram suspeitas sobre a veracidade dos resultados – e até ao início de 2006, ambos os artigos tinham sido desmascarados como fraudulentos por uma investigação da universidade onde Hwang trabalhava e retirados da Science. Meses depois, o próprio Hwang admitiria que os artigos tinham sido falsificados, acusando alguns dos seus colaboradores de serem os artífices da manipulação. O julgamento de 2009 acabaria por ilibar Hwang da acusação de fraude e por o condenar apenas por desvio de fundos e violações bioéticas.

Em paralelo, o cientista tinha processado a sua antiga universidade por o ter despedido na sequência do escândalo. Perdera inicialmente esse processo mas acabara por ganhar um recurso em 2011. Mas agora, o Supremo também anulou o dito recurso (alegando que, na sua qualidade de líder da equipa, Hwang é em parte responsável pelo que aconteceu) –, o que significa que Hwang já não pode obrigar a Universidade Nacional de Seul a reintegrá-lo nas suas funções académicas.

Hwang trabalha actualmente na Fundação Sooam de Investigação em Biotecnologia, em Seul, dedicando-se principalmente à clonagem de animais, refere ainda a Science. Diga-se já agora que a clonagem por Hwang do primeiro cão (um galgo afegão chamado Snuppy) é um dos resultados deste cientista que se sabe ser autêntico.

Todavia, o último episódio da saga antes de o veredicto do Supremo sul-coreano ser conhecido parece incompreensível. É que, em Fevereiro deste ano, o gabinete de patentes dos EUA concedeu a Hwang uma patente relativa aos métodos que supostamente permitiam clonar células estaminais embrionárias. “Foi uma surpresa”, lê-se na Science, “na medida em que o consenso na comunidade científica é que essas linhagens de células não foram produzidas por clonagem, mas a partir de um ovócito não fertilizado que deu origem a um embrião, um fenómeno conhecido como partenogénese.”

Seja como for, se nos próximos dois anos Hwang não cometer nenhum crime, não deverá cumprir qualquer pena de prisão.

 

 

 

 

 

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