Coligação PSD/CDS para as europeias chama-se Aliança Portugal

Acordo para uma candidatura conjunta foi assinada neste sábado de manhã. Arranque marcado por críticas ao PS.

Foto
Momento em que os dois líderes partidários confirmam o acordo de coligação Enric Vives-Rubio

Como é possível que a família europeia do PSD e do CDS, o Partido Popular Europeu (PPE), se entenda e consiga sentar à mesa para debater com a família socialista europeia e o mesmo não seja possível à escala nacional? A questão foi colocada mais ou menos nestes termos por Paulo Rangel (PSD), número um da lista de coligação PSD/CDS que vai apresentar-se ao país nas eleições europeias sob o nome Aliança Portugal. O acordo entre os dois partidos foi assinado neste sábado de manhã.

As formalidades ficaram para os dois líderes partidários, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, que assinaram o acordo, num hotel em Lisboa. Os discursos ficaram para os dois homens que são a figura principal de cada um dos partidos, Paulo Rangel e Nuno Melo (CDS). Coube a Rangel anunciar o nome da coligação, explicando depois que a escolha tinha como fundamento o facto de os dois partidos terem abdicado da identidade própria nestas eleições em nome dos interesses do país. Aliás, algo que para Rangel encontra um equivalente em todos os portugueses que nos últimos três anos tiveram de abdicar de alguma coisa para ajudar o país a endireitar as contas públicas.

"Há dois partidos que teriam vantagem em concorrer separadamente, seria mais fácil cada um atirar-se com a sua marca e isso seria o mais natural", sustentou Rangel, depois de Nuno Melo, que irá ocupar o quarto lugar da lista Aliança Portugal ter afirmado que em condições normais não haveria uma coligação. Porém, dizia Melo, o país vive "circunstâncias de excepcionalidade", ideia partilhada por Rangel, que preferiu salientar "o momento crucial" para Portugal, que deverá terminar o programa de ajustamento negociado com a troika a 17 de Maio, ou seja, uma semana antes das eleições europeias, marcadas para 25 de Maio.

"Este sinal, de que estão dois partidos numa lista única, numas eleições que se dirigem ao país mas também aos parceiros europeus, é de maturidade", argumentou Rangel, revelando então o nome desta coligação. "Aliança Portugal" porque "o que está em causa é uma aliança entre dois partidos e todos aqueles que em Portugal, ao longo de três anos fizeram enormes sacrifícios, que tiveram enormes prejuízos, para salvar o país. Este sacrifício fez e faz sentido porque os primeiros sinais de recuperação estão aí", prosseguiu Rangel.

Antes disso, Nuno Melo tinha percorrido a lista do que para os dois partidos do actual Governo e maioria parlamentar seriam os factos que mostram que as políticas em Portugal estão a dar resultados certos: "Hoje, Portugal cresce, as exportações aumentam e a balança comercial melhora", disse Nuno Melo, recuando a 2010 e 2011 para contrapor o que vê hoje com o que seria o país há três anos. "Em 2011, Portugal estava na bancarrota. E sem que se perceba bem porquê os socialistas não compreendem esta verdade, porque o PS diz que Portugal tem um problema porque chumbaram o PEC4", continuou o candidato designado pelo CDS, depois de afirmar que o problema era outro: "Os socialistas foram o problema e nós, com todas as dificuldades, estamos a resolver esse problema".

O primeiro designado pelo PSD também dirigiu muitas críticas ao PS português, dizendo que é um "partido isolado" na Europa. Isto porque em Estrasburgo, sede do Parlamento Europeu, o PPE e o Partido Socialista Europeu (PSE) eram capazes de se sentar a uma mesa para debater, eram capazes de se entender. E dava como exemplo o facto de ser o Governo português, tão criticado pelo PS de António José Seguro, um executivo visto como "o campeão da união bancária", uma referência para as duas principais famílias políticas europeias, nesta matéria.

"Pois, se os socialistas na Alemanha, que está numa situação económica fantástica quando comparada com todos os outros, se coligam, em nome do interesse nacional, com o Partido Popular Europeu, da senhora Merkel, como é que António José Seguro e o PS fazem as declarações que fazem em Portugal?"

Rangel não só explorou o que classificava como o isolamento do PS no contexto europeu – destacando, como Nuno melo, que o Presidente francês,  "aliado" de Seguro, tinha acabado por mudar de políticas para gerir as finanças e a economia francesas – como ainda esboçou o que seria um afastamento entre Seguro e o cabeça de lista socialista nas europeias, Francisco Assis, vincando que este último não está, neste fim-de-semana, no congresso do PSE em Roma, para onde só viajou Seguro. "Isto é já sinal de uma diferença e é sinal de que não querem estar no coração da política europeia", disse.

A lista da coligação PSD/CDS para as eleições europeias foi fechada entre Passos Coelho e Paulo Portas, que foi mandatado na sexta-feira à noite pelo partido para assinar o acordo. 

Pelo PSD, é certo que na lista encabeçada por Paulo Rangel se mantém Carlos Coelho, também actual eurodeputado. Surgem como candidatos muito fortes a integrar a lista Fernando Ruas, presidente da mesa do congresso e antigo presidente da Câmara de Viseu, e Teresa Leal Coelho, vice-presidente do PSD. Há quem lembre o paralelismo do percurso desta dirigente nacional do partido, que se demitiu da vice-presidência da bancada por estar contra o referendo da co-adopção, com o de Assunção Esteves, actual presidente da Assembleia da República, que integrou a lista europeia em 2004 depois de ter violado a disciplina de voto numa votação sobre o aborto.

Para a lista da coligação às eleições europeias de 25 de Maio foi ainda sugerido pelo PSD-Açores o nome de Berta Cabral, actual secretária de Estado da Defesa, mas Passos Coelho não queria mexer no Governo nesta altura.  

Nuno Melo, que é vice-presidente do partido, ocupará a quarta posição, mas Diogo Feio, que foi o segundo da lista do CDS em 2009, pode ficar numa situação mais difícil, tendo em conta uma possível penalização da coligação nas urnas. Nas últimas europeias, o PSD elegeu oito eurodeputados e o CDS conseguiu dois. Por isso, quem ficar abaixo do oitavo lugar na lista arrisca-se a não ser eleito, até porque o total de eurodeputados portugueses vai diminuir por causa da adesão da Croácia, passando de 22 para 21. Mas do lado dos sociais-democratas também ninguém quer arriscar lugares perante a expectativa de um resultado aquém do das duas últimas eleições europeias. Em 2009, os sociais-democratas elegeram oito eurodeputados (com 31,7% dos votos) e em 2004 a coligação PSD/CDS (que estava no Governo) conseguiu nove mandatos (com 37,5%).

As conversações entre Passos e Portas basearam-se em critérios “objectivos”, segundo os centristas, e na comparação das últimas eleições europeias. Em 2004, os centristas colocaram Luís Queiró em quarto lugar e José Ribeiro e Castro na nona posição, tendo sido o último eurodeputado eleito. Mas a redução do número de eurodeputados eleitos por Portugal pode ter baralhado as contas e as posições do CDS, até porque a lista da coligação também está obrigada a cumprir a lei da paridade.

No domingo, o acordo e a lista da coligação são aprovados pelos órgãos máximos do PSD.

A decisão de avançar para as eleições europeias em coligação pré-eleitoral foi tomada na sequência da crise política do Verão passado e foi legitimada pelos congressos dos dois partidos, em Janeiro e Fevereiro. Com Sofia Rodrigues

Sugerir correcção
Comentar