Atenção: o Instagram mete bicho!

Dizem que as “selfies”, por aproximarem várias cabeças dentro do enquadramento de uma fotografia, aproximam os piolhos e lêndeas que habitam em cada uma delas

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Andrew Kelly/Reuters

Uma especialista americana em piolhos, Marcy McQuillan, veio recentemente abalar a pólis das redes sociais, tocando na sua mais recente invenção. Diz que as “selfies”, por aproximarem várias cabeças dentro do enquadramento de uma fotografia, aproximam os piolhos e lêndeas que habitam em cada uma delas.

Contam-se mil e um motivos para atestar que as redes sociais são parasitárias. Cada um desses motivos a acusar o bicho-carpinteiro que atrai o seu portador – em força centrípeta de intensidade constante e sentido olho-ecrã – para a luz de um smartphone. Como mosquitos à volta de um candeeiro. Só a televisão conseguiu ser assim tão sedutora, no tempo em que usava napperon. E isso é tempo que já lá vai, porque hoje nem de um televisor se espera só se poder ver televisão.

Os piolhos, na sua infinita inocência de bichinhos gregários e saltitantes, é que a levam com esperteza e diversão. Fazem da “selfie” a oportunidade para aquilo que ela e as redes sociais não representam: o convívio de carne e osso, a vadiagem, a dinâmica do engate e até a reprodução da espécie – daí a presença de lêndeas. Cada couro cabeludo pode ser um alegre Bairro Alto de bares capilares. E, vejam que divertida ironia, o bicho faz a verdadeira rede social à custa de outros seres alegadamente mais gregários, cabeças que se coçam a estudar as hipóteses de digitalizar um dos pés para manterem uma metade sua na sua morada virtual – aquela que hoje importa proteger, onde vivem a noção mais importante de privacidade e o reconhecimento social que interessa. É lá que – como se diz agora – o ego se masturba, abrigado na sua caixinha de texto. O outro pé, por enquanto, fica do lado de cá, até ver, até a máquina deixar de ser extensão do corpo para passar o corpo a ser extensão da máquina.

Vá, têm razão: estou a ser radical (não foram os japoneses que inventaram uma máquina de beijar à distância?) e um bocado cínico. "Que falso moralista! Mas p’ra quê isso agora? Ainda por cima pés e masturbação…" Está bem, já passou. Bem vistas as coisas, em que é diferente um namoro de “chat” entre o bazofias1990 de Massamá e a nina_kidah de Quarteira, de um noivado à correspondência entre a menina Maria da Boa Nova e o cabo Peixoto, ela em Lisboa e ele em Lourenço Marques? Só mudam os tempos (e a sova na Língua Portuguesa), as vontades permanecem.

Agora mais calmo, vou resumir: acho que todos devíamos sair de casa para beber uma imperial, pular num concerto, fazer uma patuscada no terraço, desunhar guitarras na praia. São os clichés que não cansam ninguém e que vale a pena recuperar. E quando forem tirar a “selfie” do momento, tenham atenção aos piolhos! Não vá algum saltar em cheio para a “duckface”, o que é uma porcaria.

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