Fecho do Mt.Gox lança dúvidas sobre futuro da bitcoin

Maior corretora mundial de bitcoins sai de linha e faz desaparecer o equivalente a 350 milhões de dólares.

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A inovação do dinheiro virtual bitcoins é que não há um sistema centralizado de emissão dr

A crise do Chipre fez crescer a popularidade da bitcoin, apresentando-a como uma moeda a salvo de decisões políticas, mas o fecho inesperado da maior plataforma de negociação veio lançar a incerteza sobre a segurança e o futuro da moeda digital.

O Mt.Gox, maior site de compra e venda de bitcoins, de origem japonesa, foi desactivado ontem ao final do dia e, com ele, terá levado mais de 700 mil bitcoins, o que equivalente a cerca de 350 milhões de dólares (aproximadamente 255 milhões de euros), que representam 6% do total de bitcoins em circulação.

O fecho da plataforma apanhou o mercado desprevenido e deixou os utilizadores sem saber o destino das suas aplicações, mas a verdade é que as contas do Mt.Gox estavam congeladas desde 7 de Fevereiro, depois de a empresa ter detectado “actividades fora do normal” na sua plataforma electrónica. Segundo a imprensa internacional, o Mt.Gox cancelou todos os pagamentos depois de ter detectado uma falha do sistema que permitia levantar várias vezes a mesma moeda e convertê-la em outras divisas. Este “buraco” terá feito com que, ao longo dos anos, mais de uma centena de milhões de bitcoins fosse desviada do sistema.

Sem prévio aviso, o site foi desactivado e, num fundo branco, publicada uma mensagem pouco esclarecedora assinada pela “equipa do Mt.Gox”: “Em virtude dos últimos acontecimentos e das suas potenciais repercussões nas operações do Mt.Gox e do mercado, tomámos a decisão de encerrar todas as actividades, de maneira a proteger o site e os utilizadores. Vamos acompanhar de perto a situação e agir de forma apropriada”.

Até à data, os utilizadores do Mt.Gox nada mais sabem quanto ao futuro da plataforma e principalmente dos seus investimentos. A CNN citava ontem um documento atribuído à corretora japonesa, mas “cuja veracidade não foi confirmada”, em que se referia que o site fez desaparecer um total de 744.408 bitcoins, equivalentes a 367 milhões de dólares. O documento, intitulado Rascunho de Estratégia de Crise, revelava ainda que o Mt.Gox planeava alterar a marca para Gox, acrescentou a CNN.

Certezas não há, a não ser as de que este fecho inesperado pôs em evidência as fragilidades de um instrumento de enorme volatilidade (quando os bancos fecharam no Chipre, a bitcoin chegou a valer 180 euros, mas em sete dias caiu para cerca de 50 euros), que não é regulado e sobre o qual os investidores não têm quaisquer garantias, ao contrário do que é esperado nos depósitos do sistema financeiro convencional. Este “corralito” da bitcoin, como lhe chama o El País, parece desmontar a ideia de moeda alternativa, capaz de escapar à intervenção política, e fortalece as críticas de quem a vê como um instrumento feito para quem gosta de investimentos arriscados.

Perante este duro golpe na credibilidade da moeda, as outras empresas que comercializam bitcoins vieram demarcar-se do Mt.Gox: “Esta violação trágica da confiança dos utilizadores do Mt.Gox é resultado das acções questionáveis de uma empresa, mas não reflectem a resiliência e o valor da bitcoin e da indústria de divisas digitais”, afirmaram, num comunicado conjunto emitido ontem ao final do dia, a Circle, a Blockchain, a BTC China, a Bitstamp, a Kraker e a Coinbase.

Segundo a imprensa norte-americana, a plataforma de negociação apagou todos os seus tweets e o presidente executivo da empresa, Mark Karpeles, demitiu-se da direcção da Fundação Bitcoin (organização sem fins lucrativos criada para defender a utilização das melhores práticas da moeda digital) no domingo. O encerramento da corretora japonesa, que era responsável pela comercialização de 20% das bitcoins existentes no mercado (chegou a controlar 80%) fez o preço da moeda digital cair cerca de 3% para 490 dólares (357 euros, ao câmbio actual), atingindo o valor mais baixo desde Novembro.

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