Confrontos entre refugiados na Papua Nova Guiné fazem um morto e dezenas de feridos

Imigrantes protestavam contra as condições de vida no centro da ilha de Manus, para onde a Austrália envia os candidatos a asilo.

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Imigrantes tentaram escapar do centro de detenção na Papua Nova Guiné REUTERS/Australian Broadcasting Corporation

Uma pessoa morreu e dezenas ficaram feridas na sequência de um motim num dos centros de detenção em que o Governo da Austrália mantém os candidatos a asilo, numa das ilhas do arquipélago da Papua Nova Guiné.

“Tivemos uma situação muito perigosa quando as pessoas decidiram protestar de forma violenta e fugir do centro, colocando-se numa situação de grave risco”, declarou o ministro australiano da Imigração, Scott Morrison, citado pela CNN.

A população do centro de detenção – imigrantes a caminho da Austrália, a maior parte provenientes do Sul da Ásia e Médio Oriente – insurgiu-se contra as condições de vida, destruindo muros e vedações e envolvendo-se em confrontos com a polícia e a população. Estima-se que as centenas de tendas no centro da ilha de Manus alberguem 1300 pessoas.

A violência começou no domingo, quando um grupo de detidos conseguiu escapar temporariamente do centro de detenção. Na sequência dessa acção, um grupo de refugiados iniciou um protesto. Scott Morrison disse que foi uma acção limitada e que a maior parte da população do centro não participou, mas ainda assim os refugiados foram transferidos das suas tendas e o pessoal considerado “não-essencial” foi mandado para casa.

Em declarações à BBC, Ian Rintoul, da Refugee Action Coalition, disse que depois de um dia de tensão, a polícia entrou no campo e atacou os imigrantes. “Todas as pessoas com quem falamos, sejam trabalhadores da ilha ou os indivíduos detidos, confirmam que houve um ataque ao centro.”

De acordo com as autoridades, 77 pessoas que ficaram feridas tiveram de receber tratamento hospitalar, incluindo 13 indivíduos em estado grave. Dois detidos, um dos quais atingido a tiro, foram transferidos para a Austrália.

A única vítima mortal, um homem que não foi ainda identificado, terá sofrido um traumatismo craniano já no exterior do centro de detenção, em circunstâncias que estão por apurar. Segundo Morrison, a responsabilidade pela segurança na remota ilha de Manus pertence à Papua Nova Guiné. O governante frisou, porém, que Camberra não tinha nenhuma intenção de rever a sua política de imigração, ou de encerrar os campos de detenção, que segundo a Austrália servem para travar o acesso de imigrantes ao país.

As condições nos centros de processamento de imigrantes instalados pela Austrália em duas ilhas semi-selvagens da Papua Nova Guiné têm merecido severas críticas da organização das Nações Unidas e de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, que têm denunciado vários casos de violência e acções como greves da fome ou tentativas de suicídio.

A Austrália não é um dos destinos mais procurados por refugiados: as estatísticas publicadas pela agência das Nações Unidas revelam que só 3% dos pedidos de asilo entregues em todo o mundo em 2012 foram endereçados às autoridades australianas. Mas o Governo de Camberra assinou um acordo com a Papua Nova Guiné no sentido de instalar os refugiados nesse arquipélago do Pacífico.

Em 2013, o Governo australiano lançou a “Operação Fronteiras Soberanas” para impedir as entradas de estrangeiros no país, e transferiu a responsabilidade pela política de asilo para as mãos do Exército.

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