Parceiro de coligação dos tories admite governar com trabalhistas em 2015

Ed Miliband responde ao vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, dizendo que está apostado numa maioria do Labour nas próximas legislativas

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Clegg tem intensificado o tom das críticas aos conservadores liderados por David Cameron Suzanne Plunkett/Reuters

Em 2010, os Liberais Democratas britânicos afastaram-se do seu terreno ideológico com uma união inédita aos conservadores. Agora, com o partido reduzido a uma sombra da popularidade que conquistou nas últimas legislativas, o vice-primeiro-ministro, Nick Clegg, deixa duras críticas ao parceiro de Governo e diz-se favorável a uma coligação à esquerda após as eleições de 2015 – um convite que o líder dos trabalhistas, Ed Miliband, rejeitou.

As declarações de Clegg, num documentário que a BBC Radio 4 emite nesta segunda-feira, são um novo sinal da deterioração do casamento de conveniência entre tories e lib-dem, com estes a olharem para os trabalhistas como uma possível alternativa para se manterem no poder. Sem o dizer claramente, Clegg afirma que os trabalhistas mudaram nestes quatro anos e estão agora dispostos a uma coligação: “Não há nada como a perspectiva da realidade numa eleição para pôr os políticos a pensar de novo e o Labour, que não estava habituado a partilhar o poder, está a perceber que poderá ter de o fazer.”

Dando a entender que do seu lado há inteira disponibilidade para uma aliança, o vice-primeiro-ministro diz, no entanto, que só entraria num governo liderado pelos trabalhistas com o compromisso de que este “não gastaria tudo o que tem”.

Pouco depois de a BBC divulgar excertos da conversa, Miliband rejeitou a oferta, garantindo que está apostado em vencer com maioria as legislativas de Maio de 2015. “Estou interessado em saber como vamos trabalhar para termos um governo trabalhista maioritário em 2015 e como vamos mudar este país. É nisso que estou focado a 100%”, disse o líder do Labour, em declarações à ITV, deixando ainda uma farpa ao vice-primeiro-ministro: “O país enfrenta tantas questões importantes. Acho que Nick Clegg deveria estar era preocupado com os Liberais Democratas.”

O Guardian escreve que, nos últimos meses, trabalhistas e lib-dem têm dado sinais de alguma aproximação – até há pouco tempo, a liderança do Labour colocava como condição a uma eventual aliança futura o afastamento de Clegg, tal como o vice-primeiro-ministro fez em 2010 em relação a Gordon Brown. Contudo, dirigentes do partido ouvidos por aquele jornal dizem que os centristas continuam a ser vistos como um activo tóxico, por terem permitido ao Governo de David Cameron aprovar medidas de austeridade impopulares: “A nossa perspectiva dos lib-dem é clara. Eles não foram um travão para os tories, mas antes uma muleta.”

Cada vez mais improvável é repetição da actual aliança com os tories, com quem Clegg tem entrado em rota de colisão de forma cada vez mais frequente, seja por causa da influência crescente dos eurocépticos, seja por causa do discurso cada vez mais anti-imigração dos ministros conservadores. “Acho que o Partido Conservador mudou de forma bastante dramática desde que iniciámos a coligação”, afirmou Clegg na entrevista à BBC, acrescentando que os aliados “se tornaram muito mais ideológicos e regressaram a muitos dos tons que lhes eram familiares”. “Acho que seria melhor para toda a gente se redescobrissem o talento de falar para a maioria dos eleitores, sobre os temas que os preocupam”, acrescentou.

Esta é a última de várias críticas públicas do vice-primeiro-ministro aos tories, mas a BBC admitia que podem aumentar as fracturas na coligação, sobretudo por levantar a hipótese de uma aliança à esquerda. Ao Guardian um colaborador de Clegg admitiu que o tom das críticas é mais duro do que intervenções anteriores, mas garantiu que o partido continua empenhado em levar a coligação governativa até às legislativas. “Continuamos a querer estar entre os dois partidos e não estamos a escolher um em favor do outro.”

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