Cartas à Directora

Esconjure-se a injustiça e queime-se o boneco

Os defensores do chamado novo “mapa judiciário”, que extingue ou faz de conta que mantém as chamadas secções de proximidade, aplaudem com os argumentos da contenção de despesas, da racionalização e aquele outro ouvido, e presumivelmente estapafúrdio, de quem se importa dos “tribunais fecharem em terras que ninguém conhece”?. Mas será assim tão ridículo? Não. Quem se importará com aquilo que não conhece? Não conheço, logo, não existe é o novo princípio fundamental de toda a certeza moderna. Localidade, lugar ou lugarejo que o querido Manuel Luís Goucha, a estridente Cristina Ferreira, o eloquente Jorge Gabriel, a menina Sónia Araújo e a senhora Júlia Pinheiro não indiquem, não visitem ou tão-só mencionem, não existem. A força argumentativa, a validade da razão só tem verdadeiro peso se tiver honras do chamado prime time, aparecer na televisão ou for objeto de debate em qualquer praça pública informativa.

Face ao novo paradigma, propõe-se voltar ao período das trevas, isto é, a época que antecede o nascimento da televisão, até o da invenção da rádio, e mesmo aquele que precede a circulação nacional dos jornais. 

Proponha-se a criação de novos “juízes de vara” em todas as povoações dos concelhos do interior para velarem pela ordem, impedir desacatos, roubos e abusos; nomeiem-se os chamados “homens do acordo” do princípio do século XX que tinham como cargo resolver contendas com marcos nas propriedades, divisão de águas, tentando sempre o acordo; ou até propor-se que os fiscais municipais alarguem as suas funções com a finalidade de guardarem a azeitona, os pomares e as vinhas; e quiçá voltarmos ao velho conceito de implementação da justiça local trazido pelo liberalismo nas figuras do regedor e do guarda rural.

Muitos sabem que é comum em alguns locais, particularmente de Trás-os-Montes, proceder-se a um julgamento anual do diabo, de um bode, ou do chamado pai da fartura, e metaforicamente descarregar sobre ele as culpas de todos os males que assolam o país e, sobretudo, os do lugarejo. O pobre boneco personificador do mal é queimado em praça pública perante a risota e o aplauso gerais. Então porque não substituir-se o tribunal concelhio nas pequenas vilas do interior por uma sessão anual deste tipo?

José Alegre Mesquita, Carrazeda de Ansiães

 Quem precisa de quem?

Apesar da contradição de o ex-bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira, ser seguidor de uma religião que prega o amor ao próximo e, simultaneamente, ter servido numa máquina que existe para matar o semelhante, sou há muito seu admirador, não como meu conterrâneo, mas pela frontalidade e acerto com que denuncia os problemas e injustiças sociais. Gostei muito da sua entrevista de 10/2/2014, mas não concordo com a sua afirmação a dado passo: "Deus precisa de nós." (sic). Não. Deus, com os seus infinitos poderes, não precisa de intermediários. Só há um deus que não existe sem intermediários. É o deus TOD – temor, obediência e... o dízimo.

 M. Gaspar Martins, Porto

  


 

   

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