Vítimas de violência queixam-se menos por causa da crise

APAV atendeu menos 212 vítimas directas de crime em 2013, descida que contrasta com a subida dos últimos anos. Algumas vítimas nem dinheiro têm para pagar o telefonema de denúncia.

Foto
Como em muitos casos de violência contra ex-companheiras, o acusado não aguentou a separação Manuel Roberto

Menos queixas e mais dificuldade em ajudar: a crise está fazer baixar o número de pedidos de apoio à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e, por outro lado, a dificultar a resposta às vítimas. “As pessoas aparecem não só com o problema da vitimação mas com uma série de problemas relacionados, como a necessidade de casa, emprego, alimentação e saúde. E, com a crise, os técnicos têm muita mais dificuldade em responder a essas necessidades”, adiantou ao PÚBLICO José Duque, da APAV.

Em 2013, esta associação apoiou menos 212 vítimas directas de crime (8.733, contra as 8.945 de 2012). É uma descida que contrasta com as consecutivas subidas verificadas nos últimos anos. Por outro lado, apesar do menor número de pedidos de ajuda, foram necessários mais 14.475 episódios de atendimento para garantir o respectivo encaminhamento: 37.222 atendimentos em 2013, contra os 22.747 do ano anterior. “E os resultados são muito menos evidentes. Os técnicos têm muita mais dificuldade em conseguir emprego e mudança de casa, e às vezes de cidade, para uma vítima de violência conjugal, por exemplo”, acentuou José Duque.

Do mesmo modo, “tornou-se muito mais difícil encontrar respostas, nomeadamente num lar, para um idoso vítima de violência”. Isto porque a crise fez com que “a capacidade de resposta da sociedade diminuísse consideravelmente” em todos os campos.

“Se já antes as vítimas estavam no silêncio e não pediam ajuda, hoje temos a certeza que há muitas mais vítimas que não chegam a pedir ajuda, com receio de não terem as condições económicas para sobreviver fora do agregado familiar violento”, adianta ainda José Duque. Há pormenores que sustentam a convicção: “Cada vez mais, as pessoas que nos telefonam pedem para lhes ligarmos de volta. Nem sequer se podem dar ao luxo de gastar dinheiro com aquele telefonema”.

Durante o ano passado, a APAV registou 20.642 crimes, um número ligeiramente acima dos 20.331 crimes de 2012. Quanto à tipologia, nenhuma novidade: os crimes de violência doméstica representam a esmagadora maioria (84,2%) dos crimes relatados pelas vítimas. E, dentro desta categoria, a APAV destaca a percentagem significativa de maus tratos psíquicos (36,8%) e físicos (26,9%). Ambos perfazem 63,7% dos “crimes de violência doméstica em sentido estrito”.

Embora percentualmente menos significativos, destacam-se ainda entre os crimes de violência doméstica no sentido mais lato, 34 homicídios tentados e seis consumados, 68 casos de violação e 32 casos de abuso sexual de criança, a que se somam ainda 16 casos de abuso sexual de menor dependente ou de pessoa incapaz de resistência. Mais dados na mesma categoria: 27 queixas de subtracção de menor e 52 violações da obrigação de alimentos.

Os maus tratos contra menores têm, aliás, vindo a aumentar. Todos os dias, chegaram em média à APAV 2,7 denúncias de crimes contra crianças e jovens. Dá uma média de 19 por semana, para um universo total de 974 casos em 2013. Ligeiramente abaixo, as denúncias de crimes contra idosos perfizeram uma média de 2,1 por dia, ou seja, 15 casos por semana.

 
 

Sugerir correcção
Comentar