"Mar" português ilustrado distinguido em Bolonha

“O design e a ilustração deste livro são o eco perfeito do tema marítimo", disse o júri internacional sobre o livro com texto de Ricardo Henriques e ilustrações de André Letria (ed. Pato Lógico)

"Mar", com texto de Ricardo Henriques e ilustrações de André Letria (ed. Pato Lógico), recebeu uma menção honrosa no Prémio Bologna Ragazzi 2014 na categoria de Não Ficção. Disse o júri internacional: “O design e a ilustração deste livro são o eco perfeito do tema marítimo. Tipografia e imagem estão belissimamente integradas através do uso da bicromia de preto e azul. O artista explora com eficácia os contrastes de escala. Há embarcações minúsculas a enfrentar enormes criaturas marinhas. Faróis que espalham o seu feixe de luz ao longo da página. O universo do mar está retratado em todas as suas dimensões, incluindo factos, personagens e folclore, numa experiência gráfica altamente gratificante.”

Para André Letria, que é também o editor da Pato Lógico, esta distinção “tem um peso especial por ser dada pelos pares, os profissionais do livro”, disse ao P3. Martin Salisbury (professor de ilustração e ilustrador), Manuel Estrada (designer) e Laurence Tutello (livreiro) escolheram "Mar" entre dezenas de obras propostas pelas editoras que terão stands na Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha deste ano (24 a 27 de Março). “Para uma editora pequena, é garantia de visibilidade.”

Mar foi concebido como um “actividário: actividades+abecedário” para o público infanto-juvenil, e desde o seu lançamento, em 2012, já conseguiu um expressivo palmarés: menção no Prémio Nacional de Ilustração de 2013; Prémio Junceda Ibéria 2013 e Melhor Design na Categoria Infanto-Juvenil dos Prémios Ler/Booktailors.

"Mar" inspirou a decoração do stand infanto-juvenil da Feira Internacional do Livro de Bogotá, no ano passado, em que Portugal foi país convidado, e serviu de base às actividades dedicadas aos jovens durante a feira.

O planeta Mar

A obra lança uma interrogação logo à partida: “Se o nosso planeta tem mais mar que terra, então porque é que não se chama planeta Mar?” Segue-se um alfabeto temático, com água por todos os lados. Começa precisamente com a definição de “água” e acaba com a de “zooplâncton”.

Para o autor do texto, que assim se estreia no mundo dos livros, o prémio “é um incentivo bastante simpático”, mas quer realçar: “O trabalho do André é mais preponderante. Os miúdos entram no livro pela ilustração e pela composição.”

Um projecto pensado em conjunto e bastante discutido em todos os pormenores. A co-autoria é assim apresentada: textos de Ricardo Henriques, “com bitaites de André Letria”; ilustrações de André Letria, “com alvitres de Ricardo Henriques”.

“Era para ter à volta de 32 páginas, mas eu entusiasmei-me e acabou em 56”, conta divertido. Aí, reconhece, valeu-lhe bastante o editor ser também designer e ilustrador: “O André sempre foi arranjando forma de encaixar as coisas.”

A escolha das palavras “marítimas” foi objecto de uma apurada investigação, mas a decisão de as integrar neste alfabeto nem sempre se regeu “pelo critério da importância”. Houve outros, como “a sonoridade” dos vocábulos. O autor recorda o caso de “bonasvolhas”. “Como o livro é infanto-juvenil, também pudemos brincar um bocadinho”, conta este apaixonado pelo mar e que quase foi para a Marinha.

Significado de “bonasvolhas”: “A maior parte dos remadores das galés eram prisioneiros inimigos ou pessoas condenadas a trabalhos forçados. Mais raros eram os voluntários com salários ou bonasvolhas, nome que vem do italiano buona voglia (de boa vontade), que deixavam crescer um tufo de cabelo no alto da cabeça para se distinguirem do resto da chusma” (pág. 9).

As palavras "excluídas indignadas"

No final, há uma “lista das excluídas indignadas”. São as palavras que não constam deste dicionário, como “cargueiro”, “naufrágio”, “ostra”, entre outras. E é assim que começa a reclamação: “Nós, palavras abaixo-assinadas, vimos por este meio expressar a nossa indignação extrema por termos sido excluídas deste actividário de fim-de-semana, um pasquim com entradas e nenhuma saída que merecia ir directamente para uma fogueira de santelmo (ao menos esse conseguiu entrar).”

“Sempre que fazemos listas, há os excluídos e pensámos que esta era uma forma divertida de não deixarmos esquecidas algumas outras palavras importantes e interessantes”, diz Ricardo Henriques, que vive indeciso entre “dois amores”. Herdou “o gosto pelo desenho da parte do pai e o gozo da escrita da parte da mãe”. Por isso, no seu percurso profissional, entram “design gráfico, ilustração, redacção publicitária e escrita para imprensa”. Agora, também a escrita para crianças e jovens. O próximo actividário com a sua assinatura tem “o futuro” como tema e será publicado em Junho.

  

A obra já foi editada no Brasil e em Itália e está agora a ser adaptada para formato digital, em parceria com a empresa Biodroid e com lançamento previsto para o final do ano.

Os organizadores da feira de Bolonha consideram o Prémio Bologna Ragazzi “um dos mais prestigiados galardões do sector, uma vez que os editores de todo o mundo submetem as suas melhores obras a concurso, garantindo uma excepcional qualidade das candidaturas”. E explicam que “os livros premiados recebem uma enorme cobertura dos media”, sendo a “recepção aos vencedores um dos mais vibrantes momentos do calendário da feira”.

O Pato Lógico, que se apresenta como “um animal editorial que faz livros”, vai partilhar um stand nesta edição da feira com a editora Orfeu Negro (no seu segmento Orfeu Mini, destinado ao público infanto-juvenil).

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