Venezuela entre protestos diários e o risco de um banho de sangue

Manifestações em Caracas acabam em violência, com três mortos e dezenas de feridos. Governo e oposição trocam acusações.

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Os estudantes exigem a libertação de 13 colegas detidos na semana passada Jorge Silva/Reuters

A mais recente onda de protestos contra o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, já dura há duas semanas, e o descontentamento da oposição com o chavismo cumpre este mês 15 anos, mas há um dia que poderá marcar um antes e um depois na convulsão política e social do país: 12 de Fevereiro de 2014 – o dia em que as manifestações atingiram um nível de violência sem precedentes, com três mortos e 66 feridos.

Oposição e apoiantes do governo de Maduro saíram às ruas para comemorarem os 200 anos da Batalha de La Victoria, uma das mais importantes na luta da Venezuela pela independência. Era essa a razão oficial da presença de milhares de pessoas nas ruas de Caracas na terça-feira, mas todos conheciam os outros motivos – de um lado, uma multidão descontente com a insegurança e o caos económico no país, que concentra a sua fúria em Nicolás Maduro; do outro, os apoiantes do governo, fortalecidos com os chamados “colectivos”, grupos de vigilantes armados cuja alegada ligação ao poder é desmentida pelo Presidente venezuelano.

Era também o Dia da Juventude – instituído em honra dos estudantes que lutaram na Batalha de La Victoria –, e muitos dos manifestantes exigiam a libertação de 13 estudantes, detidos na semana passada por actos de vandalismo contra a residência do governador do estado de Táchira, no noroeste do país.

Os protestos decorriam de forma pacífica, e a maioria dos manifestantes já tinha abandonado a Praça da Venezuela, no centro de Caracas, quando um grupo de homens em motocicletas disparou contra as pessoas que tinham ficado para trás. Bassil da Costa, líder estudantil de 24 anos, opositor de Nicolás Maduro, morreu com um tiro na cabeça. Juan Montoya, de 40 anos, identificado como membro de um dos “colectivos” alinhados com o governo, foi baleado na cabeça e no peito. Horas mais tarde, Roberto Redman, de 31 anos, da oposição, foi morto durante protestos no município de Chacao, também na capital.

O Presidente Nicolás Maduro acusou a oposição de ter orquestrado a violência. “Estamos a assistir a um renascimento nazi-fascista e vamos derrotá-lo. Podem ter a certeza absoluta de que não haverá nenhum golpe de Estado na Venezuela”, declarou, sublinhando que os responsáveis “vão pagar”.

Leopoldo López, líder do partido Voluntad Popular e um dos principais rostos da oposição, é acusado pelo governo de responsabilidade na violência de terça-feira. Mas um outro dirigente, Carlos Vecchio, afirmou que “a violência só interessa ao governo”, acusando as forças de segurança de terem provocado os tumultos no final de uma “manifestação pacífica”.

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