Nadella: um executivo discreto, escolhido entre mais de 100

O novo líder da Microsoft tem 22 anos de casa. Pediu a Bill Gates que estivesse por perto.

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Nadella está na Microsoft desde 1992
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Nadella está na Microsoft desde 1992 Microsoft
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Bill Gates, CEO até 2000, voltará a estar mais activo na empresa Reuters
O director executivo da Microsoft, Steve Ballmer, na conferência Build
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Steve Ballmer liderou a empresa durante 14 anos Reuters

Satya Nadella, o novo presidente executivo da Microsoft, era até há poucos dias um nome pouco conhecido. Passou quase metade dos seus 46 anos na multinacional americana, onde foi subindo na hierarquia. Trabalhou directamente com os antecessores, Steve Ballmer e Bill Gates. Mas esteve quase sempre afastado dos produtos que atraem os consumidores e a generalidade da imprensa, que se debruça mais sobre as guerras com a Apple, o mercado de computadores, telemóveis e tablets, e os lançamentos de cada novo Windows.

Nadella era um executivo do lado empresarial, um negócio mais discreto, mas que é responsável por cerca de dois terços das receitas da empresa. Agora, terá nas mãos uma complexa transição para a era pós-computadores. É o terceiro presidente executivo desde que a Microsoft foi fundada, em 1975.

Natural de Hyderabad, na Índia, onde nasceu em 1967, tirou uma licenciatura em engenharia electrotécnica, mas queria ter estudado informática — na altura, a Universidade de Mangalore não tinha esse curso. Emigrou de seguida para os EUA, onde tirou um mestrado em ciências computacionais. Está casado com a mesma mulher há tanto tempo como aquele que já passou na Microsoft. Conhecem-se dos tempos de liceu e têm três filhos.

Em algumas manhãs, Nadella reserva 15 minutos para assistir a aulas online. Às vezes, sobre temas como neurociências. Compra mais livros do que aqueles que consegue ler (e começa a ler mais do que aqueles que acaba). Gosta de poesia e de cricket, um desporto popular na Índia e no qual competiu quando era jovem.

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Tudo isto faz parte da muita informação publicada pela multinacional no dia em que anunciou o novo presidente. Um longo email de Nadella aos funcionários, enviado na terça-feira, dia em que a promoção foi oficializada, está escrito no tom típico destas mensagens: descreve como Gates e Ballmer o inspiraram, como soube desde o início que aquela era a melhor empresa para trabalhar e como a Microsoft poderá continuar a mudar o mundo. Também dá algumas pistas sobre como vê o sector e a empresa a evoluir: dispositivos e capacidade de computação cada vez mais presentes e um negócio assente em aparelhos móveis e em serviços online, o chamado cloud computing, uma área em que já trabalhou directamente.

ldquo;A nossa indústria não respeita a tradição — respeita apenas a inovação. As oportunidades que a Microsoft tem pela frente são vastas, mas, para as agarrar, temos de ser mais rápidos, temos de nos concentrar e de continuar a transformar”, afirmou Nadella, desta feita num comunicado. “Considero que uma grande parte do meu trabalho é a aceleração da nossa capacidade para trazer mais rapidamente produtos inovadores aos nossos clientes”.

As competências técnicas de Nadalla têm sido notadas e irromperam na Internet os comentários sobre como tem um perfil mais próximo do de Gates (que não tirou um curso, mas cujo interesse por programação informática deu origem à empresa) do que do perfil de Ballmer, um às da matemática que foi o primeiro gestor contratado pela Microsoft, cinco anos após a fundação.

Ballmer ficou sempre na sombra de Gates. Este foi o presidente executivo durante os anos de enorme expansão da empresa, nas décadas de 1980 e 1990. Numa entrevista há alguns anos, o próprio Ballmer admitiu que, contrariamente ao fundador, não é um visionário. Numa ideia que hoje parece trivial, Gates imaginou um computador em cada casa e em cada secretária, e percebeu cedo que havia negócio por explorar na venda de sistemas para equipar computadores de outras empresas, em vez de desenvolver um produto que fosse uma combinação de hardware e software (como, por exemplo, ainda hoje a Apple faz).

Também é certo, contudo, que Gates chefiou a companhia numa altura em que a adopção de computadores pessoais explodiu e na qual os serviços online estavam ainda numa fase inicial. Já Ballmer pegou no leme quando o sector estava a começar a transformar-se e outras empresas foram mais rápidas a mudar. No início da década passada, a Microsoft até colocou tablets à venda. Mas foi a Apple a primeira a perceber a fórmula certa para este tipo de aparelhos e a comercializá-los com sucesso.

A escolha do novo presidente executivo foi o culminar de um processo longo de selecção, de que se soube muito pouco. Foram considerados candidatos internos e externos, da área de tecnologias de informação, mas também de outros sectores, como é prática nestes casos. Em Dezembro, quatro meses depois de Ballmer anunciar a saída, a Microsoft disse que tinha chegado a uma lista de 20 finalistas, depois de já ter antes elaborado uma selecção de mais de 100 possíveis candidatos.

Nunca foi revelado oficialmente o nome de nenhum dos seleccionados. A possibilidadade de Nadella começou a ser especulada na imprensa especializada já há alguns meses, antes de algumas agências noticiosas, a poucos dias do anúncio oficial, terem dado a nomeação como certa. Porém, quase sempre as apostas dos media eram feitas noutros nomes.

O presidente executivo da Ford, Alan Mullay, foi várias vezes noticiado como um possível sucessor de Ballmer, mas acabou por renovar o contrato com a fabricante automóvel até ao fim de 2014. Segundo o The Wall Street Journal, Mullay chegou a ter conversas com o conselho de administração da Microsoft, mas não lhe agradou a possibilidade de ter Ballmer (que permanecerá como administrador) e Gates (que assumirá um papel mais activo) a espreitarem-lhe por cima do ombro.

Outra possibilidade avançada foi a de Stephen Elop, o ex-CEO da Nokia. Elop foi vice-presidente da Microsoft, responsável pelo negócio do Office (o pacote de aplicações de produtividade que inclui o Word e o Excel). É praticamente certo o seu regresso à multinacional americana para chefiar o negócio de telemóveis, assim que estiver concluída a aquisição desta divisão da fabricante finlandesa.

“O Satya é um líder com provas dadas e com competências sólidas de engenharia, visão de negócio e a capacidade para juntar pessoas”, escreveu Bill Gates. As duas primeiras competências são úteis para desenvolver os produtos e os negócios da Microsoft. Já a referência à terceira surge depois de a empresa ter, no final do ano passado, acabado com um sistema de avaliação dos cerca de 100 mil funcionários que promovia a concorrência interna, em favor de um modelo que pretende fomentar uma cultura de colaboração.

Entre os analistas que acompanham o sector, surgiram elogios sobre o trabalho desenvolvido na área dos serviços online e a nomeação foi vista como uma aposta que evita sobressaltos, mas também como uma aposta de continuidade, numa altura em que a Microsoft precisa de mudança.

ldquo;Ele é reconhecido pela transição para a cloud. Tem estado a liderar esta transição (...) e é uma das coisas que está a correr bem à empresa”, afirmou o analista da IDC Al Hilwa.

“Enquanto a Microsoft continua na faixa da direita da autoestrada a 90 quilómetros por hora com o novo CEO, o medo entre os investidores é que os outros (...) continuem a ultrapassar facilmente a empresa pela faixa da inovação e crescimento”, escreveu, por seu lado, o analista Daniel Ives, do banco de investimento FBR. “Não queremos ver apenas o negócio continuar na direcção actual, por isso será importante que Nadella esteja livre para fazer mudanças”, observou ainda Rick Sherlund, do Nomura, outro banco de investimento. No dia da nomeação, as acções da Microsoft sofreram uma queda ligeira.

Com o novo presidente executivo, chegam também outras mudanças na estrutura. Gates deixa a presidência não executiva do conselho de administração (que será ocupada por um outro administrador) e passará a ser conselheiro de tecnologia de Nadella. Isto significa que, depois de anos dedicado sobretudo à filantropia, voltará a estar mais envolvido no quotidiano da empresa.

“Pedi ao Bill para dedicar tempo adicional à companhia, focando-se na tecnologia e nos produtos”. Gates tinha dito antes que estaria disposto a afastar-se ou participar mais, consoante a vontade do novo CEO. “Será divertido trabalharmos juntos a definir a próxima série de produtos”, afirmou agora.

A ideia parece ser a de que o visionário fundador possa apoiar Nadella na área das tecnologias de consumo, onde o executivo tem menos experiência. Num percurso ligado aos produtos empresariais, a excepção foram os quatro anos que Nadella passou como vice-presidente senior para a investigação e desenvolvimento de serviços online. Durante este período, aperfeiçoou o motor de busca Bing, um concorrente distante do Google, com pouca expressão no mercado europeu, mas que ganhou alguma popularidade nos EUA.

A Microsoft já admitiu que os aparelhos móveis e os serviços na Internet colocam um desafio de mudança para os próximos anos. No primeiro email que enviou como presidente executivo (e que não é possível saber se foi escrito pelo próprio ou se foi concebido por funcionários como uma ferramenta de comunicação interna e externa), Nadella parafraseou o escritor irlandês Oscar Wilde: “Precisamos de acreditar no impossível e remover o improvável”.
 

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