Um novo nome das curtas na competição de Berlim

Diogo Costa Amarante vê As Rosas Brancas a concurso para o Urso de Ouro em Berlim – tal como Gabriel Abrantes, que considera uma influência.

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O cineasta e artista plástico Gabriel Abrantes Miguel Manso

O Festival de Berlim tem trazido sorte ao cinema português nos últimos anos: em 2012, o Urso de Ouro da curta-metragem para João Salaviza por Rafa , em 2013 a menção especial para João Viana por A Batalha de Tabatô .

Este ano, a presença portuguesa na Berlinale reduz-se ao formato curto, com dois filmes nacionais concorrendo ao Urso de Ouro na selecção oficial Berlinale Shorts. O primeiro a passar (sexta, 7, com repetições dias 10, 12 e 14) é Taprobana, o mais recente trabalho do artista multimedia Gabriel Abrantes – cujo A History of Mutual Respect vencera a categoria em Locarno em 2010 e que é actualmente um dos jovens realizadores nacionais mais reconhecidos internacionalmente – inspirado na vida e obra de Camões.

Mas se Gabriel Abrantes já é um nome conhecido, Diogo Costa Amarante, realizador da segunda curta portuguesa a concurso em Berlim, As Rosas Brancas (exibida sábado, 8, com repetições dias 10, 11 e 13), é um nome que pouco dirá à maioria dos leitores. Apesar de ser a sua quinta curta-metragem (antes houve três documentários e uma ficção), esta é a sua primeira selecção para um festival de “primeira divisão”. “É o meu filme mais pensado, aquele em que tive mais tempo de reflexão.”

Curiosamente, quando questionado sobre afinidades com outros cineastas portugueses, Diogo Costa Amarante cita, por videochamada de Nova Iorque, o autor de Palácios de Pena ou Liberdade. “Gosto muito do trabalho do Gabriel Abrantes, tem potencial para ser algo de muito importante. Tem sempre algo de imperfeito que funciona a seu favor, uma liberdade que não vem da escola de cinema.”

Que o voluntarismo e a liberdade formal do cinema de Abrantes seja uma referência para Amarante é curioso para um jovem realizador que se define abertamente como formalista. “Sou altamente formalista no sentido em que, para mim, a história é tão importante como tudo o resto,” explica. “A evolução natural do cinema, a meu ver, é em direcção a uma narrativa puramente emocional; uma comunicação poética, uma condensação estilizada e expressiva da linguagem.”

Na verdade, tal como Abrantes vem do mundo das artes plásticas, também Diogo Costa Amarante chegou ao cinema por portas travessas: formado em Direito, começou por ser advogado antes de uma curta inscrita meio por brincadeira num festival o fazer virar-se para o cinema e a fotografia. Trabalhou em produção (com Joana Vicente), foi bolseiro, rodou documentários, assistiu João Pedro Rodrigues (outra das suas referências de cinema) na rodagem de O Corpo de Afonso.

Mas este instantâneo da vida de um pai e três filhos que a morte da mãe continua a afectar muito depois do acontecimento é o primeiro momento em que teve uma verdadeira estrutura de produção, no âmbito do curso que frequenta na Tisch School of Arts nova-iorquina  – “uma equipa profissional, tempo de rodagem, enquanto os anteriores foram feitos a correr, sem orçamento” –, e o seu trabalho mais pessoal. “Transmite temas que estão em todos nos meus filmes anteriores – o género em função da sexualidade, as relações de família – mas de forma muito mais honesta, envolvendo elementos muito mais pessoais.”

As Rosas Brancas é um filme no qual Diogo Costa Amarante se revê simultaneamente enquanto cineasta e enquanto espectador. “Não sei se estou a ir no bom caminho, mas sinto-me muito mais próximo.” Veremos o que o júri do concurso de curtas – que inclui o português Nuno Rodrigues, um dos directores do Curtas Vila do Conde – terá a dizer. 
 
 
 
 

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