Visão holística da saúde é cada vez mais necessária

A oportunidade está aí, é necessário garantir a qualidade e a segurança.

O debate sobre visão científica e holística da saúde está aí. Por todo o mundo, desde a Califórnia ao Brasil, ao Mediterrâneo, ao Oriente, este tema está na ordem do dia. Cuidar de todos os aspetos que influenciam a saúde é cada vez mais importante. Os temas dos debates atuais vão cada vez mais no sentido de chamar a atenção para compreender e tratar a saúde de uma forma ampla e integrada. Para tratar bem os doentes é necessário compreender esta abrangência, compreender como as terapias complementares podem estar ao lado dos tratamentos científicos, associados a tratamentos ditos "naturais" e "do espírito".

É atribuído a Ian Christian Smuts, um filósofo sul-africano, o termo holístico. Smuts foi um dos primeiros adeptos do anti-apartheid e, talvez por isso, só mais tarde a sua obra foi divulgada por Adler. Holístico vem do grego “holos”, que significa “todo”.

Segundo o paradigma holístico, a saúde apresenta-se como uma abordagem global da pessoa. A doença, nessa visão, tem um caráter multifatorial e o próprio tratamento deve alavancar a reposição do equilíbrio do corpo e do espírito. António Damásio, cientista de nível mundial, dá exemplos de inter-relação entre o corpo e a mente, que constituem uma unidade.

Para várias destas terapias Portugal apresenta condições excelentes. Além do termalismo, das caminhadas naturais em contacto com o ambiente e o clima, Portugal tem uma excelente costa com recursos marítimos para tratamentos e prevenção.

Debrucemo-nos sobre uma terapia em particular – a talassoterapia, para a qual Portugal parece estar adormecido (exceto em casos pontuais de mérito), é uma terapia que constitui um produto de alto valor, como descreveu Viegas Fernandes no seu livro Turismo de Saúde e Bem-estar no Mundo, um pequeno grande tratado sobre estas e outras áreas.

É sabido que a água do mar tem uma composição química idêntica à do nosso plasma sanguíneo. É conhecido também que tem 92 substâncias diferentes desde o oxigénio, hidrogénio, cloro, sódio, estrôncio, etc. e até oligoelementos importantíssimos como ferro, ouro, zinco, cobalto, manganês, selénio, entre outros. Estes elementos atravessam a pele por osmose, mas para que isso aconteça é necessário um contacto de mais de dez minutos com a água e esta osmose melhora se a água estiver a uma temperatura próxima da temperatura da pele e do corpo humano, 37°C. A água do mar parece possuir propriedades anti-inflamatórias e purifica o ar. Quanto maior for a salinidade e a temperatura, mais eficaz é a talassoterapia.

Além da água, outros componentes atuam em conjunto. As algas, outro elemento importante, são responsáveis pela produção de cerca de 70% do oxigénio do planeta. Das 25 mil espécies, algumas das quais fazem parte da farmacologia e da alimentação oriental (mais de 600 mil toneladas consumidas anualmente), muitas são riquíssimas em sais minerais, contendo antioxidantes, e outras ainda absorvendo as gorduras.

Os tratamentos em talassoterapia devem, no entanto, ser efetuados sob vigilância médica, tendo indicações e contraindicações.

Em Portugal, ao que apurámos, existem apenas oito centros de talassoterapia. Se compararmos com a Tunísia, por exemplo, onde existem 40 centros de boa qualidade, vê-se que Portugal tem condições para multiplicar o número de centros. A Tunísia é, aliás, um bom exemplo e um dos únicos dois países com legislação específica (o outro é a França).

Sendo Portugal um país com 800 quilómetros de costa no continente e 960 quilómetros de costa nos arquipélagos, vê-se que tem enormes potencialidades. A qualidade da água é superior à do Mediterrâneo, o clima é ameno e o país hospitaleiro. A oportunidade está aí, é necessário garantir a qualidade e a segurança, a promoção e a divulgação e ainda a diferenciação dos nossos centros, com a inovação que podemos acrescentar.

Internacionalmente, a certificação era realizada pela Fédération Internationale de Thalassothérapie Mer et Santé, localizada na França, e atualmente o Syndicat National de la Thalassothérapie Mer et Santé. Nos Estados Unidos é o Occupational Safety and Health Act (1992).

Em Portugal não parece existir ainda regulamentação, mas seria bom obedecer às recomendações internacionais e realizar vistorias periódicas por auditores externos para garantir a qualidade e segurança.

Cirurgião cardiovascular, vice-presidente da APTSBE – Associação Portuguesa de Turismo de Saúde e Bem-Estar

 
 
 
 
 
 
 

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