CT dos Estaleiros reabre guerra com o ministro da Defesa à margem dos sindicatos

Trabalhadores acusam sindicatos de não cumprir orientações da CGTP. CT reune esta quinta-feira com Arménio Carlos e garante que a luta contra a subconcessão dos ENVC vai ser retomada.

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A luta nos ENVC continua, e agora tem trabalhadores contra trabalhadores Paulo Pimenta

Estupefactos, revoltados e traídos. Adjectivos utilizados pelo coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT) dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) para classificar o estado de espírito dos trabalhadores na sequência das negociações, encetadas na semana passada, por representantes sindicais locais com o ministro da Defesa.

O porta-voz da CT, António Costa, garantiu que esses contactos foram realizados à revelia das orientações da CGTP e esta quinta-feira, em Lisboa, irá analisar o caso com o secretário-geral, Arménio Carlos e com os serviços jurídicos da intersindical.

“Ficámos completamente estupefactos com a atitude dos dirigentes sindicais nas reuniões que eles tiveram com o ministro da Defesa. O sindicato precisa de pessoas que lutem pelas empresas e pelo posto de trabalho e que sigam a orientação da sua intersindical e isso não aconteceu”, explicou.

O responsável falava aos jornalistas no final de uma reunião com representantes sindicais de Lisboa, liderados pelo coordenador da CT da AutoEuropa, que vieram manifestar a sua solidariedade com a “luta” pela manutenção dos ENVC enquanto empresa pública, contestando igualmente a subconcessão ao grupo Martifer.

Costa concretizou as acusações e explicou que, no plenário de 27 de janeiro, os representantes sindicais - liderados pelo coordenador da União de Sindicatos e trabalhador dos ENVC, Branco Viana e por Martinho Cerqueira, dirigente sindical e também o mais antigo trabalhador da empresa - apenas foram “legitimados” para “simples reuniões de abordagem” e “não negociações como as que se vieram a concretizar”.

“Essas reuniões deram em quê? Deram em que o senhor ministro que anda de muletas, quando devia estar a ser apertado contra uma parede por causa de uma mentira que utilizou para levar este processo da subconcessão por diante, teve duas muletas do sindicato de metalúrgicos de Viana”, afirmou.

O timing dos encontros entre sindicatos e tutela não agradou aos trabalhadores. O primeiro, realizado no dia 29, coincidiu com a deslocação da CT a Bruxelas numa ronda de contactos para tentar travar a subconcessão. Já o segundo  ocorreu a 1 de Fevereiro, dia de jornada de luta da CGTP contra as políticas do Governo. A reunião entre os sindicalistas e o ministro da Defesa chegou mesmo a ser adiada para o final da tarde, terminados os protestos.

António Costa garantiu que ainda não se esgotaram todos os cartuchos nesta guerra. “Há muitas coisas que estão a ser trabalhadas que podem por em causa este processo”, disse, referindo-se à comissão de inquérito proposta pelo PCP e a outras diligências jurídicas que, em seu entender, podem ter sido prejudicadas com estas negociações.

Por tudo isto, apelou aos responsáveis sindicais que, “se tiverem dignidade e vergonha na cara” devem demitir-se e abandonar os ENVC. “Se querem receber o dinheiro das indemnização disponível na empresa até dia 21, que aproveitem, levem o seu chequezinho e deixem os trabalhadores”, sublinhou.

A CT convocou ainda para a próxima segunda-feira um novo plenário de trabalhadores, a realizar na empresa, para discutir este caso. “Deixámos bem claro que a CT está aqui para lutar pelos direitos dos trabalhadores e pela manutenção dos estaleiros no sector empresarial do Estado. É esse o caminho que os trabalhadores vão continuar a fazer”, rematou.

Contactado pelo PÚBLICO, um dos sindicalistas visados, Branco Viana, escusou-se a comentar as insinuações que, entende, reflectem “a falta de democracia existente dentro da empresa”. Explicou também que as estruturas sindicais “estavam mandatadas e cumpriram o que foi decidido em plenário, por esmagadora maioria dos trabalhadores”, referindo que a opção pela via do diálogo com o Governo recolheu apenas dois votos contra e quatro abstenções.

Igualmente Martinho Cerqueira, também visado nas afirmações de António Costa recusou fazer comentários.

Já o Ministério da Defesa veio ontem a público esclarecer que o contrato dos navios asfalteiros estão actualmente a ser renegociados entre as administrações da EMPORDEF, ENVC e a empresa petróleos da Venezuela PDVSA. Em comunicado, o gabinete de Aguiar-Branco esclareceu que “a construção dos dois navios não está directamente relacionada com o futuro da empresa ENVC que, se encontra em processo de encerramento”.

 
 

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