Aborto: porque eu decido

Juntas, as mulheres ibéricas não permitirão que direitos, liberdades e garantias lhes sejam pouco a pouco retirados.

O alerta vem de Espanha. Este sábado, dia 1 de Fevereiro, mulheres de toda a Espanha vão manifestar-se pelas liberdades e pela manutenção da actual lei da saúde sexual e reprodutiva e da interrupção voluntária da gravidez.

Vão entregar no Congresso dos Deputados um documento intitulado Porque eu decido: "Porque eu decido com independência moral, base da dignidade de qualquer pessoa, e não aceito imposição, ou proibição alguma aos meus direitos sexuais e reprodutivos e, em consequência, à minha plena realização como pessoa. Como ser humano autónomo, recuso-me a ser submetida a tratamentos degradantes, ingerências arbitrárias e tutelas coercivas na minha decisão de ser ou não ser mãe."

"Não pensámos que se podia voltar atrás, que se podia anular a conquista de mais um degrau na civilização ocidental, uma pequena pedra no edifício que é a Europa: a liberdade que é o direito de a mulher decidir sobre o seu corpo. Sucessivas perdas de direitos e liberdades começaram assim. Em Espanha, a vertigem para um recuo nesta legislação faz-nos temer que seja apenas o início no retrocesso da democracia, tanto espanhola como europeia. Assusta-nos que as mulheres espanholas, para o exercício da sua dignidade, sejam forçadas a atravessar a fronteira para interromper a gravidez no nosso país.

"Outrora foram as portuguesas a cruzar a raia para, em segurança, poderem fazê-lo, longe da condenação e do opróbrio português. Gerações de mulheres antes de nós combateram o obscurantismo ao qual um Estado opressor as confinava. Agora, como mulheres livres e europeias, recusamo-nos a aceitar que se invoquem desculpas económicas para subordinar a mulher ao estatuto de um ser inferior, sem autonomia ética, afectiva e social.

"Rogamos às portuguesas que não esqueçam o percurso feito até aqui e instigamos as espanholas a não se deixarem intimidar. Juntas, as mulheres ibéricas não permitirão que direitos, liberdades e garantias lhes sejam pouco a pouco retirados."

Cláudia Alves (realizadora de cinema), Rita Blanco (actriz), Suzana Borges (actriz), Margarida Cardoso (realizadora de cinema), Dalila Carmo (actriz), Pandora da Cunha Telles (produtora de cinema), Luísa Costa Gomes (escritora), Teresa Dias Coelho (pintora), Irene Flunser Pimentel (escritora), Elizabete Francisca (coreógrafa), Raquel Freire (realizadora de cinema), Renée Gagnon (distribuidora de cinema), Margarida Gil (realizadora de cinema), Manuela Gonçalves (estilista), Joana Gusmão (produtora de cinema), Lídia Jorge (escritora), Salomé Lamas (realizadora de cinema), Margarida Leitão (realizadora de cinema), Rita Loureiro (actriz), Simonetta Luz Afonso (museóloga e política), Inês de Medeiros (actriz e deputada), Vera Mantero (coreógrafa), Margarida Martins (activista e política), Catarina Mourão (realizadora de cinema), Maria João Mayer (produtora de cinema), Inês Oliveira (realizadora de cinema), Catarina Portas (jornalista e empresária), Filipa Reis (realizadora de cinema), Leonor Silveira (actriz), Susana Sousa Dias (realizadora de cinema), Margarida Subtil (antiquária), Carmen Santos (actriz), Anabela Teixeira (actriz), Maria Teresa Horta (escritora), Alice Vieira (escritora).
 

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