Veteranos das universidades demarcam-se de praxes polémicas

Secretário de Estado da Juventude diz que o aconteceu no Meco “não é praxe académica”.

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PÚBLICO

Os veteranos das universidades nacionais querem separar a praxe que é feita na generalidade das instituições de ensino superior dos casos violentos que têm lançado o debate acerca destas práticas. Também o secretário de Estado da Juventude, Emídio Guerreiro, se referiu ontem à questão suscitada pela morte de seis estudantes na praia do Meco, em Sesimbra, dizendo que aquilo que aconteceu no mês passado “não é praxe académica”.

“A praxe do Porto e a maioria das praxes do país recomendam-se e devem poder continuar a existir”, defende o dux da Universidade do Porto, Américo Martins – um dos mais antigos alunos do ensino superior em Portugal, com 40 matrículas. Também o dux da Universidade de Coimbra, João Luís Jesus, defende que em muitas instituições do ensino superior não há “algo que justifique as suas praxes”, fazendo cópias "com desvios" do que é feito na mais antiga universidade portuguesa. "Noutros sítios, sujam-se os caloiros com lama, ovos ou farinha, quando isso, em Coimbra, é expressamente proibido", explicou à agência Lusa.

“A praxe é muito mais do que aquilo que é mediatizado. Só se mostra um lado e não há preocupações em contextualizar [o que acontece]”, defende também a papa da Universidade do Minho, Maria Canelas. O dux do Porto diz, por isso, que é preciso “distinguir” entre o que é praxe “e aquilo que não é”. Por isso, recorda, há dois anos foi aprovado por nove academias um conjunto de princípios que devem regular este tipo de actividades.

Esta diferenciação foi também ontem defendida pelo secretário de Estado do Desporto e Juventude, Emídio Guerreiro, segundo o qual a actividade que terá levado à morte de seis estudantes na praia do Meco, no mês passado, "não é praxe académica". A praxe "não é aquilo, nem nunca o foi", afirmou Guerreiro, que chegou a presidir à Associação Académica de Coimbra, citado pela agência Lusa.

Para o governante, o incidente do Meco é "uma questão policial", por haver "quem esteja a incumprir a lei". O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, de 2007, estabelece que “a prática de actos de violência ou coacção física ou psicológica sobre outros estudantes, designadamente no quadro das praxes académicas”, constitui uma infracção disciplinar dos estudantes, com sanções que podem ir da simples advertência à interdição da frequência da instituição de ensino superior por um período até cinco anos.

No final desta semana, o Ministério da Educação e Ciência vai reunir-se com as associações académicas e de estudantes para discutir o tema, mas nenhuma das estruturas que organizam a praxe nas universidades, nem o Conselho Nacional de Tradições Académicas foi convocado para a reunião. Ainda assim, o dux  do Porto saúda a decisão do MEC. “Já é um primeiro passo. Há aqui um clima em torno da praxe que é preciso desbloquear”, defende. Segundo Américo Martins, as notícias dos últimos dias estão a criar uma “dicotomia” em algumas academias. “Parece que todos os que vestem de preto são assassinos”, diz.

Os pais dos seis jovens que morreram em Dezembro na praia do Meco, em circunstâncias ainda por apurar, já receberam mais uma centena de mensagens electrónicas na conta de email que criaram para recolher informações sobre o que sucedeu naquele fim-de-semana. Fátima Negrão, mãe de uma das vítimas, explicou ontem ao PÚBLICO que a iniciativa tem estado a “correr muito bem”, sem adiantar o conteúdo das mensagens nem o destino das mesmas. com Mariana Oliveira
 
 
 
 
 
 

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