Acabe-se com a Taça de Portugal

Para aqueles que defendem que o râguebi é diferente do futebol, recordo que a Taça de Portugal não passa de uma cópia ultrapassada desse mesmo futebol

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Nuno Ferreira Santos

Em 2007 Portugal passou a ter uma Lei de Bases da Actividade Física e do Desporto (Lei nº5/2007, de 16 de Janeiro). Um passo de gigante! E não vou tecer grandes considerações sobre a mesma porque o nome diz tudo e esta separação de conceitos permite a um qualquer Governo, qualquer executivo municipal, qualquer executivo de junta ou a qualquer direcção de clube preparar uma estratégia que sirva os interesses dos seus. Uma não é inimiga da outra. As duas não são a mesma coisa.

Sei bem que ainda impera no nosso rectângulo periférico muitas vozes que defendem que “tudo é desporto” e que o desporto “é para todos”. Pois bem, o desporto não é para todos. O desporto é só para alguns. O desporto não dá saúde. O desporto é para quem tem saúde. O desporto é para quem treina e não para quem "vai treinando".

Compete ao Estado garantir que todos tenham acesso a uma actividade física regular, falar em desporto já é excessivo. Se quisermos e tomando uma piscina como exemplo, por termos alinhado na lógica do "desporto para todos", consideramos que era normal exigirem piscinas de 50 metros.

E que relação tem isto com um espaço dedicado ao râguebi que o P3, reeditando a excelente experiência no Mundial 2007, no PÚBLICO, nos brindou? Tudo!

Tomemos com exemplo França. Alguém imagina o ASM Clermont (Top 14), do nosso Julien Bardy, a defrontar o Villefranche de Lauragais (Fédérale 2 – quarta divisão francesa), do nosso Yannick Ricardo? Ou o mítico e profissional do Top 14, Stade Toulousain, defrontar o histórico e profissional da PRO D2, Beziers? Ou, em Inglaterra, um confronto entre os London Irish (Premiership) e o Coventry (Division 3)?

Nos dias de hoje verificamos que é impensável cruzarem-se equipas profissionais de escalões diferentes, quanto mais profissionais com amadoras. Pois bem, muitos dos leitores estarão certamente a recordar o famoso jogo de Lyon entre Portugal e a Nova Zelândia onde 20 lugares do ranking IRB separavam as duas equipas.

De facto essa diferença existia e existe, mas tratou-se de uma contingência de uma prova onde há um apuramento. Por alguns acharem que tudo vale o mesmo, que tudo é desporto, é que ainda temos uma competição denominada Taça de Portugal. Aliás, é uma competição que já não encontra paralelo nos países da oval.

E, curiosamente, para aqueles que defendem que o râguebi é diferente do futebol, recordo que esta competição não passa de uma cópia ultrapassada desse mesmo futebol, onde o mais fraco tem hipóteses de ganhar. Já o râguebi é cruel nesse aspecto e o já referido Villefranche jamais ganhará ao ASM.

Achar que o râguebi português beneficia com esta competição, é o mesmo que dizer que a quota solidária praticada pelo Comité Olímpico Internacional nalgumas disciplinas olímpicas faz sentido. Não faz! E é estrategicamente irrelevante.

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